finge que morre
e quando menos se espera
é flor indo
flor vindo
floresta em festa
que flor é esta
que sempre resta?”
"ESQUIMÓ"
Seu nome
se eu tivesse um bar ele teria o seu nome
se eu tivesse um barco ele teria o seu nome
se eu comprasse uma égua daria a ela o seu nome
minha cadela imaginária tem o seu nome
se eu enlouquecer passarei as tardes repetindo o seu nome
se eu morrer velhinho no suspiro final balbuciarei o seu
[nome
se eu for assassinado com a boca cheia de sangue gritarei o
[seu nome
se encontrarem meu corpo boiando no mar no meu bolso
[haverá um bilhete com o seu nome
se eu me suicidar ao puxar o gatilho pensarei no seu nome
a primeira garota que beijei tinha o seu nome
na sétima série eu tinha duas amigas com o seu nome
antes de você tive três namoradas com o seu nome
na rua há mulheres que parecem ter o seu nome
na locadora que frequento tem uma moça com o seu nome
às vezes as nuvens quase formam o seu nome
olhando as estrelas é sempre possível desenhar o seu nome
o último verso do famoso poema de Éluard poderia muito
[bem ser o seu nome
Apollinaire escreveu poemas a Lou porque na loucura da
[guerra não conseguia lembrar o seu nome
não entendo por que Chico Buarque não compôs uma
[música para o seu nome
se eu fosse um travesti usaria o seu nome
se um dia eu mudar de sexo adotarei o seu nome
minha mãe me contou que se eu tivesse nascido menina
[teria o seu nome
se eu tiver uma filha ela terá o seu nome
minha senha do e-mail já foi o seu nome
minha senha do banco é uma variação do seu nome
tenho pena dos seus filhos porque em geral dizem "mãe"
[em vez do seu nome
tenho pena dos seus pais porque em geral dizem "filha" em
[vez do seu nome
tenho muita pena dos seus ex-maridos porque associam o
[termo ex-mulher ao seu nome
tenho inveja do oficial de registro que datilografou pela
[primeira vez o seu nome
quando fico bêbado falo muito o seu nome
quando estou sóbrio me controlo para não falar demais o
[seu nome
é difícil falar de você sem mencionar o seu nome
uma vez sonhei que tudo no mundo tinha o seu nome
coelho tinha o seu nome
xícara tinha o seu nome
teleférico tinha o seu nome
no índice onomástico da minha biografia haverá milhares
[de ocorrências do seu nome
na foto de Korda para onde olha o Che senão para o
[infinito do seu nome?
algumas professoras da USP seriam menos amargas se
[tivessem o seu nome
detesto trabalho porque me impede de me concentrar no
[seu nome
cabala é uma palavra linda mas não chega aos pés do seu
[nome
no cabo da minha bengala gravarei o seu nome
não posso ser niilista enquanto existir o seu nome
não posso ser anarquista se isso implicar a degradação do
seu nome
não posso ser comunista se tiver que compartilhar o seu
[nome
não posso ser fascista se não quero impor a outros o seu
[nome
não posso ser capitalista se não desejo nada além do seu
[nome
quando saí da casa dos meus pais fui atrás do seu nome
morei três anos num bairro que tinha o seu nome
espero nunca deixar de te amar para não esquecer o seu
[nome
espero que você nunca me deixe para eu não ser obrigado a
[esquecer o seu nome
espero nunca te odiar para não ter que odiar o seu nome
espero que você nunca me odeie para eu não ficar arrasado
ao ouvir o seu nome
a literatura não me interessa tanto quanto o seu nome
quando a poesia é boa é como o seu nome
quando a poesia é ruim tem algo do seu nome
estou cansado da vida mas isso não tem nada a ver com o
[seu nome
estou escrevendo o quinquagésimo oitavo verso sobre o seu
[nome
talvez eu não seja um poeta à altura do seu nome
por via das dúvidas vou acabar o poema sem dizer
[explicitamente o seu nome.
Fabrício Corsaletti
in ESQUIMÓ
Para lerem mais sobre o Movimento POESIA MARGINAL:
O LINK CABALÍSTICO: http://entretenimento.uol.com.br/ultnot/livros/trechos/2010/03/07/ult5747u87.jhtm
"yo no creo en brujas pero que las hay las hay."
Cervantes
Era para encerrar o post por aqui mesmo, mas preciso encontrar uma música que retrate essa minha REVELAÇÃO ESOTÉRICA...hahaha.... Sei lá, algum "Arcanjo Gabriel", anunciando O NOME Lou Albergaria... como a próxima EXCRETORA da POESIA MARGINAL...
Outro dia no blog do Wanderley Elian - também linkado na barra lateral esquerda - recebi mais de 70 comentários ao meu poema A BOSTA É POP! Até disse a ele que só mesmo em blogs alheios consigo tantos comentários assim acerca de minha poesia, pois nos meus blogs poucos comentam. Mas o que mais me intrigou foi a quantidade grande de pessoas que NÃO SABIAM O QUE DIZER - não sabiam se haviam gostado ou detestado - ou seja, ficaram PERPLEXAS, meio que ainda 'tentando digerir o banquete apresentado'... Digerir BOSTA POP não é mesmo tarefa muito fácil, eu que o diga...e MARGINAL,então, no sentido de estar à margem do convencional - do sempre feito de forma sublime - que agora vem uma LOUCA de NOME Lou Albergaria achando que pode mudar as coisas de lugar assim... colocar a bosta no ventilador da blogosfera e sair ilesa dessa?!
Houve até uma senhora que disse: interessante o poema, mas ainda prefiro os versos sublimes feitos para sonhar; prefiro a poesia que faz sonhar.
Madame, pois EU prefiro a poesia que faz defecar tudo que nos entope de vergonha e constrangimento; prefiro a poesia que nos faz vomitar tudo que recebemos de hipocrisia no leitinho materno bem quentinho e doce pra nos aliciar e capturar nossa vontade e desejo, colocando cabrestos e freios em nossa libido. Delicada Madame, prefiro os VERSOS que, além de sonhar, nos faz gozar em aloucinado estado de tesão!!!
BEIJOS, Meus Amados!!!!! Inté!
Este aqui é meu ARCANJO GABRIEL que deve estar PUTO com Paulo Coelho, um canalha que se rendeu ao Sistema, ficando literalmente de quatro (nada contra a ficar de quatro, mas que seja por tesão, não por dinheiro...mas prostituição existe em toda área, não é mesmo? Sejamos tolerantes com os prostitutos da literatura e da Arte...PORRA NENHUMA!!!!!! Quem vende o corpo eu tolero e até tento compreender, mas quem VENDE IDEIAS, CONVICÇÕES IDEOLÓGICAS E SENTIMENTOS DE LIBERDADE, AMOR, PAIXÃO, LOUCURA...NOMES INDECIFRÁVEIS E INCATALOGÁVEIS, eu quero mesmo é que todos vocês vão lamber sabão... rima pobre é o que vocês merecem, seus putos!!!!):
Como deixei lá em seu blog: agora não é mais a Menina frágil querendo mudar o Mundo com uma cestinha de Amoras embaixo do braço. Continuo querendo MUDAR O MUNDO, mas dessa vez, é com sangue, fogo e bosta de Vaca.
XEQUE! Mais uma vez. Tá ficando chato esse jogo... Mas se quer continuar, vambora... Estou evitando o XEQUE MATE por puro "cavalheirismo", pois sei que outras pessoas podem sair feridas e NÃO QUERO FERIR NINGUÉM, nem mesmo você que é essa psicopata demente. Mas se precisar FERIR outros envolvidos a sua volta, esteja certa que farei.
O Pistoleiro Corvo ensinou-me MUITO. Muito mesmo. Mas o que considero de melhor e mais pujante foi a AMORALIDADE "na hora de MATAR". Sempre fui uma AMORA - Sagrado feminino de Amor - recheada de pudores, conflitos morais, princípios, ética e toda essa "fudeção cultural" que nos enfiam goela abaixo assim que nascemos. Com ele aprendi a sentir prazer na hora de "puxar o gatilho" e se for contra você, o prazer será ainda maior.
Verdadeiramente, já havia me esquecido de você. Completamente mesmo. Mas já que insiste reavivar minha memória, então, 'tamos aí' pro que der e vier.
Escolha tuas armas, AMOR, e venha... O cheiro de flor do teu sangue atiça meu tesão de "matar"...
Você disse por email que quer muito saber qual o cheiro da Loba. Lá no LOBA eu lhe direi que cheiro a Loba tem. Algo me diz que você não vai gostar...
Lou Albergaria - A Loba de Ray-Ban
***
Tela: BASQUIAT
A partir dessa reflexão ele vai traçando os argumentos que ratificam sua opção pelo afastamento dos palcos, estejam eles em qualquer lugar, sejam em países de primeiro mundo, sejam em paises em desenvolvimento como o Brasil. O fato é que ele se mostrou bastante ESGOTADO e INDIGNADO com os rumos que a ARTE veio tomando nas últimas décadas no planeta (Felizmente, pra ele, não é só em nosso país que a carniça começou a feder, menos mal para nós brasileiros, creio eu).
O transgressor dramaturgo e diretor apontou a TECNOLOGIA desses novos tempos como sendo um dos motivos de seu desencantamento com o teatro e as artes. Ele até diz textualmente: "também não estou afim de criar o iTheatro." E estabelece uma relação bastante estreita entre alta tecnologia e decadência nas artes, sobretudo no teatro, afirmando que hoje percebe-se uma crise de criatividade generalizada. Não pude discordar dele. Verdadeiramente, nas últimas duas décadas temos presenciado uma CRISE DE ABSTINÊNCIA CRIATIVA, eu diria. A maior prova disso são as infindáveis regravações - remakes, como queiram - de antigos e eternos sucessos que vão desde o Cinema, passam pela música, a televisão com suas fórmulas ancestrais de garantir o sucesso de audiência, o teatro que opta pela forma clássica de apresentar os textos, pois implica menos riscos comerciais, as editoras que preferem lançar ANTOLOGIAS de escritores consagrados a buscarem novos autores e investirem em sua divulgação, pois aumenta os custos; e, claro, apostarem nos grandes "filões" de best-sellers - leitura fácil e prazerosa - que garante entretenimento sem maiores contestações do ser humano e a si mesmo e à sociedade na qual está inserido, até chegarmos ao 'topo' das artes que são as artes plásticas. Aí o bicho pega! Pois são raríssimas as pessoas que VERDADEIRAMENTE conseguem diferenciar uma grande pintura de um singelo artesanato. Alguém para fazer essa diferenciação com segurança requer muita informação e cultura em história da arte o que, definitivamente, não está ao alcance de qualquer cidadão, até mesmo daqueles que possuem acesso às melhores escolas. Sempre dependemos da opinião de um crítico especializado para sabermos se tal 'artista' é mesmo bom ou não passa de um mero artífice.
Lembro-me agora de um conto que li semana passada da Lygia Fagundes Telles intitulado SAUNA, em que o personagem central do conto é um grande artista plástico que depois de mais ou menos vinte anos de sucesso e aclamação da crítica especializada e do público - que vai na onda da crítica, pois sozinho não tem mesmo condições de diferenciar um Van Gogh de um Basquiat - encontra-se em absoluta crise de identidade artística. Em um dado momento da extraordinária narrativa de Lygia esse artista diz: basta a minha assinatura. Ninguém entende nada, mas mesmo assim pagam milhões por um quadro medíocre meu, pois não consigo mais criar. Simplesmente venho repetindo há anos a mesma fórmula de sempre e eles não percebem e, se percebem, não se importam com isso. Mas o personagem parecia bastante preocupado, pois sofria por conta disso. Um artista que no início era absolutamente genial e depois transforma-se em um blefe, ainda que milionário e vendendo muitos quadros para a alta burguesia.
É mesmo bastante difícil compreender a Arte. Por isso, é tão mais cômodo lançar aquela velha e surrada frase: "arte não é pra ser compreendida; arte é para ser sobretudo sentida na alma..." Eu mesma já lancei mão dessa frase (mea culpa, mea maxima culpa....) muito mais vezes do que desejaria.
Nessa madrugada mesmo, assistindo ao programa ALTAS HORAS do Serginho Groissman - um comunicador que admiro muito - em que estavam Ivete Sangalo e Rodrigo Santoro, vi-me mais uma vez diante dessa dicotomia: arte é para ser também compreendida ou somente senti-la basta? Depois fui dormir e não assisti ao restante do programa que ainda traria mais convidados. Entretanto, só assisti a essa primeira parte - que teve a participação rápida também de uma sexóloga, respondendo algumas perguntas da plateia -. Mas o que mais me chamou a atenção é que a nossa RAINHA DO POP NACIONAL - Ivete Sangalo - apesar de possuir uma voz deliciosamente belíssima apresenta um repertório sofrível (para não dizer algo mais deselegante), pois gosto muito dela; é uma cantora de um carisma incrível, um astral sempre alto e contagiante com sua alegria, no entanto, canta canções com arranjos fantásticos, mas letras indecentes de tão medíocres.
Na mesma hora, ou melhor, alta hora, estabeleci uma ponte com o texto-Manifesto do Thomas. A arte vem se empobrecendo cada vez mais com o passar do tempo. É algo que impressiona e ao mesmo tempo constrange a quem ama a arte verdadeiramente, mas sobretudo, àqueles que conseguem compreendê-la e não apenas sentí-la. Parece arrogante essa constatação, não é? Mas a verdade é mesmo muito arrogante. Quando Adorno, por exemplo, escreve "'arte popular' não é arte" é bastante arrogante. Uma arrogância que eu mesma contestei algumas vezes, mas depois de começar a prestar um pouco mais de atenção à 'arte popular' percebi certa coerência em seus argumentos e ontem ao prestar ainda mais atenção às letras cantadas por nossa RAINHA DO POP aí que Adorno tornou-se mais coerente pra mim, ainda que dôa um pouco nessa alma libertária admitir o elitismo da arte. Mas realmente é incomparável uma letra cantada por Ivete com uma canção cantada por Bethânia, por exemplo (percebam que mantive a analogia no território baiano para não envolver mais variáveis na análise). Mas sei qual é a pergunta que não quer calar: "Podemos comparar dois ESTILOS completamente distintos?" Vamos partir da premissa que não - hoje estou realmente boazinha - mesmo assim, se comparamos então o tal AXÉ - gênero musical, ao invés de comparar a cantora -com outros estilos (gêneros musicais) aí é que a carniça fede ainda mais. (boazinha, hein?!!!)
Compreendo o desalento do Thomas, principalmente quando vou às livrarias e ao invés de me deparar com os grandes escritores da humanidade, sempre nos stand's frontais, estão os VAMPIROS lá todos expostos nas capas a verter sangue. É desalentador mesmo que pode até levar a uma forte depressão, como parece ter ocorrido com o dramaturgo e diretor ao qual faço referência.
O grande artista precisa sempre de um bom e relevante motivo para continuar. "...mas continuar o quê?"
Será que a bosta é pop porque pop é a bosta?!
Lou Albergaria
Em tempo: Confesso que fico absolutamente perdida quando vou à alguma galeria de artes plásticas. Também NÃO SEI diferenciar arte de artesanato. Mas quero muito aprender e penso que o primeiro passo é RECONHECER a própria ignorância e não ter medo jamais da verdade, ainda que esta possa ser SEMPRE refutada e questionada.
Sou uma mera artesã da palavra, mas não tenho medo ou preguiça de pensar...
LINK para o MANIFESTO DE GERALD THOMAS:
http://geraldthomasblog.wordpress.com/manifesto/
Recomendo que vasculhem o blog dele como um todo, pois há coisas extraordinárias: vídeos, entrevistas, textos, links, enfim, arte da melhor qualidade. E contestação que, em minha opinião, é a mais bela face da arte.
Abaixo uma cena absolutamente genial do grande Beckett, citado por Thomas em seu Manifesto, em ESPERANDO GODOT:
"PENSAR É TRANSGREDIR!"
Lya Luft
Tela: Rembrandt