" (...)
Cantando amor, os poetas na noite
Repensam a tarefa de pensar o mundo.
E podeis crer que há muito mais vigor
No lirismo aparente
No amante Fazedor da palavra

Do que na mão que esmaga."

Hilda Hilst

Se gostou, volte sempre!!!!

domingo, 28 de agosto de 2011

NUVENS DE LARA




para Lara Amaral


    

                                      Queria

                       Tanto                            Ser


                                        Clara



                           Um


              Papel                     De


                             Nuvem




                                                     Um

                                   Papel                           de



                                                        Lara


                                     Que



colhe


                                       os versos



                   Num                                carrossel



                                    de anjos



Entre



                                                                                                o arco-íris, e...













                                                                  ...o precipício


 
Mas,



                                                  canta e baila



                                                          Tão clara



                                            tão nuvem                    tão anjo



                                                               Tão rara



 Lou Albergaria

Imagem: Livro das Poetisas do MARIA CLARA

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

poesia asa da peste



não sei a poesia concreta
e, faço
não sei o amor
e, faço


às vezes, sim
às vezes, não
às vezes tô afim
às vezes o fim tá afim de mim 

                                       o

                                    t

                                 e

                               r

                            e

no concreto 


 a


     t


       o


          l


            o


o ódio
cabra da peste
da moléstia...

Lou Albergaria

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

PÁSSARO AZUL




Vejo o poeta embrulhado num pedaço do céu

azul,
tinjo de esperança
o verso na noite

quantas armadilhas ecoam um sentimento oco...

com palavras construo poesias, e
mentiras
despalavram-me


... pode o amor ser tão abstrato
quanto o ar entre penas, ...que

faz um vôo tão alto
ser abatido
pela falta do movimento

despalavro pássaros cuja imobilidade
despoesia-me


Lou Albergaria

terça-feira, 9 de agosto de 2011

mortem, quae sera tamen!



em Love Story sempre fui kamikasi

matei meu amor de tanto
desejar tê-lo possuído
fechava os dedos a espremê-lo, e
ele espargia na tangente
pelas frestas dos dedos

não faço MEA CULPA

somos o que podemos ser
não o que gostaríamos de ter sido

quando nossa história nos torna kamikasis
só nos resta, honrosamente
morrer, ainda que tardia!

Lou Albergaria

segunda-feira, 8 de agosto de 2011


Presente de aniversário que recebi do Lindo Poeta Nathan de Castro. Mais um magnífico poema!

OBRIGADA,  Poeta!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Ostra feliz não faz pérola



"Ostras são moluscos, animais sem esqueletos, macias, que são as delícias dos gastrônomos. Podem ser comidas cruas, de pingos de limão, com arroz, paellas, sopas. Sem defesas - são animais mansos - seriam uma presa fácil dos predadores. Para que isso não acontecesse a sua sabedoria as ensinou a fazer casas, conchas duras, dentro das quais vivem.

Pois havia num fundo de mar uma colônia de ostras, muitas ostras. Eram ostras felizes. Sabia-se que eram ostras felizes porque de dentro de suas conchas saía uma delicada melodia, música aquática, como se fosse um canto gregoriano, todas cantando a mesma música. Com uma exceção: de uma ostra solitária que fazia um solo solitário.

Diferente da alegre música aquática, ela cantava um canto muito triste. As ostras felizes se riam dela e diziam: 'Ela não sai da sua depressão...'. Não era depressão. Era dor. Pois um grão de areia havia entrado na sua carne e doía, doía, doía. E ela não tinha jeito de se livrar dele, do grão de areia. Mas era possível livrar-se da dor.

O seu corpo sabia que, para se livrar da dor que o grão de areia lhe provocava, em virtude de sua aspereza, arestas e pontas, bastava envolvê-lo com uma substância lisa, brilhante e redonda. Assim, enquanto cantava o seu canto triste, o seu corpo fazia o seu trabalho - por causa da dor que o grão de areia lhe causava.

Um dia passou por ali um pescador com seu barco. Lançou a rede e toda a colônia de ostras, inclusive a sofredora, foi pescada. O pescador se alegrou, levou-a para casa e sua mulher fez uma deliciosa sopa de ostras. Deliciando-se com as ostras, de repente seus dentes bateram num objeto duro que estava dentro de uma ostra. Ele o tomou nos dedos e sorriu de felicidade: era uma pérola, uma linda pérola. Apenas a ostra sofredora fizera uma pérola. Ele a tomou e deu-a de presente para a sua esposa.

Isso é verdade para as ostras. E é verdade para os seres humanos. No seu ensaio sobre O nascimento da tragédia grega a partir do espírito da música, Nietzsche observou que os gregos, por oposição aos cristãos, levavam a tragédia a sério. Tragédia era tragédia. Não existia para eles, como existia para os cristãos, um céu onde a tragédia seria transformada em comédia. Ele se perguntou então das razões por que os gregos, sendo dominados por esse sentimento trágico da vida, não sucumbiram ao pessimismo.

A resposta que encontrou foi a mesma da ostra que faz uma pérola: eles não se entregaram ao pessimismo porque foram capazes de transformar a tragédia em beleza. A beleza não elimina a tragédia, mas a torna suportável. A felicidade é um dom que deve ser simplesmente gozado. Ela se basta. Mas ela não cria. Não produz pérolas. São os que sofrem que produzem a beleza, para parar de sofrer. Esses são os artistas. Beethoven – como é possível que um homem completamente surdo, no fim da vida, tenha produzido uma obra que canta a alegria? Van Gogh, Cecília Meireles, Fernando Pessoa....

(ALVES, Rubem. Ostra feliz não faz pérola. - São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2008. - Página 11-12)

****

Esse texto do Genial Rubem Alves me fez lembrar de um poetrix que fiz ontem :

o que a faz pensar que isso é poesia?

...o meu desejo de não morrer
antes da hora combinada

os sapatinhos vermelhos



Da esquina, velhos olhos me espreitam
Eu, sem memória, improviso saudades

Quem sou agora não cabe mais na mesma caixa

Os sapatinhos de verniz vermelho maltratam
bem mais do que os pés

Os caminhos percorridos são veias, que
hoje sangram dentro de uma caixa vazia

Lou Albergaria

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

AULA DE ANATOMIA

(para Lara Amaral)

O poema sem imagem atira-me ao flagelo
Fico sem rota, rumo
Direção incerta

Confusa, atropelo os sentidos entre suas frestas
Femininas fendas dissecam o poema na aula de anatomia

Quem disse que não escorre sangue nas entrelinhas?...
...

e,
reticências...


Lou Albergaria

sempre A menina...



A menina me pede um poema.

Assustada,
sinto medo do escuro

Vejo minha vida
remoída
Em seus dedos miúdos

Suas mãos cresceram
Ficaram maiores que o tempo, mas
A pureza não cabe mais
Dentro delas

Lou Albergaria