" (...)
Cantando amor, os poetas na noite
Repensam a tarefa de pensar o mundo.
E podeis crer que há muito mais vigor
No lirismo aparente
No amante Fazedor da palavra

Do que na mão que esmaga."

Hilda Hilst

Se gostou, volte sempre!!!!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

ESTÁ QUEIMANDO...



De qual ponto
Seu olhar
É mais atento?

Amplo

Diluo o azul
Em outras percepções

O sol é um ovo estriado

Nuvens são Montanhas 
Embarcações são pássaros

Todo papel
Depois de amassado
Entope os ductos

Por isso, estico o horizonte

Alongo a coluna
que sustenta o delta

Toco o céu com a ponta dos dedos

É água viva! ...por favor, cuidado ao me tocar:
Estou queimando...


Lou Albergaria

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Ah, A VIDA...




A vida é só uma, e
Última

Ainda que haja reencarnação ESTA vida é apenas esta

Não há como retroceder, nem mesmo
Ter direito a uma sessão de VALE A PENA VER DE NOVO

Não se pode voltar para cometer erros mais belos,
Mais Livres, e mais úmidos

E, a derradeira linha do livro, o Inconsciente repete como um mantra:
... “sim, e morreu feliz para sempre.”

Esse sempre é o instante em que só consigo me lembrar de Cora Coralina:

Para que a vida não seja curta nem longa demais
É preciso que ela seja intensa, verdadeira e pura
Enquanto durar...

Ah, Cora, nossa doce Aninha,...

Se soubesses
O quanto é tão difícil ser pura
Quando não se acredita mais na pureza...


Lou Albergaria

***

Um dos poemas mais belos de Cora:

"... se a vida é curta...

Não sei...
Não sei...

se a vida é curta
ou longa demais para nós.
Mas sei que nada do que vivemos
tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que sacia,
amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo:
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
não seja nem curta,
nem longa demais,
mas que seja intensa,
verdadeira e pura...
enquanto durar."

Autora: Cora Coralina


Imagem: VLADIMIR KUSH

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Êi, PÁSSARO AZUL!




Passeio entre polens, e
Pergaminhos, mas
É sempre o seu rosto
Que me acena beija-flores

Os olhos fundos...

Dois rios que capturam
Whisky, cerveja, fumaça
O mundo

E, me capturam...

Vou eu tateando a margem
Dos seus lábios

Essa ilha de água agridoce

Onde colho a poesia
E, os pássaros azuis
Quase caindo do ninho, que
Ainda não aprenderam
A voar... em nós


(ah, Bukowski...

o pássaro azul está no fundo do rio
varado de fome, e
desse nosso medo de amar...)


Lou Albergaria
 
***

Poema PÁSSARO AZUL de BUKOWSKI

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

ESSENCIAL É SER FELIZ


Em muitos momentos sinto que o melhor que se pode dizer a uma criança de dez anos é que se prepare para a morte. Daqui a algum tempo, você perderá seus avós, depois seus pais, tios, primos, amigos e, com alguma sorte, você também se perderá. Talvez, encontre o caminho de volta ou talvez descubra que o melhor mesmo é jamais voltar...

De qualquer forma, enquanto nos perdemos encontramos outras formas de olhar o que nunca demos tanta importância; coisas simples, coisas tolas, coisas essenciais.

Mas, o que é essencial? O que é felicidade?

Muitas vezes, sinto que o essencial por ser tão pequeno, tão ínfimo, tão precário, está tão escondido, recalcado, amontoado em pilhas de supérfluos, perdido em sua própria essencialidade de uma existência inútil.

E, a felicidade? ....a felicidade é um oásis no labirinto.

Todos sabem o que é e onde fica, mas
poucos têm a coragem para alcançar.

É mais fácil dizer da infelicidade. O que é infelicidade?

A infelicidade é um grão de areia nos olhos
de quem não sabe mais produzir lágrimas.

O que incomoda mesmo não é o grão de areia; mas,
não conseguir mais verter lágrimas, que
deixem a alma limpa e pura
para que a felicidade plante suas raízes...

É tão difícil ser feliz com os olhos turvos.

E, é tão fácil, tão fácil...
Basta perder o medo do escuro.


Lou Albergaria

Imagem: William Blake

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Mon Ange...



Se num coração de criança

Abrigo minha alma
Renasce a pureza que um dia
Esqueci

O anjo

Que não pude ser
Desperta a Menina

que desejo desanoitecer em mim...


Lou Albergaria


quinta-feira, 15 de setembro de 2011

SINA



Poeta não nasceu pra ser feliz
Poeta nasceu pra ser genial


Feliz é nuvem pássaro
Céu estrelado em noite de sábado
Beijo de namorados molhado, e
Salgado


Na madrugada...


A palavra amor em sua saliva
Abrindo meus lábios
Penetrando meus sonhos
Adivinhando meus planos
Sorrindo de graça.


Não quero ser Poeta!


Por favor, livra-me dessa sina
Deixa eu ser somente sua Menina
Deitar no teu colo
Tocar castanhola
Vibrar com Nina Simone
Naquela nossa antiga vitrola

Dançarmos juntos
Eternamente juntos
Até que o tempo se canse de nós, e

a poesia, se canse de mim...



Lou Albergaria

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

meta.MOR.face

Você tem medo de mim?
pois, não tenha...

Sou mais inofensiva que a barata
do Kafka


Tonta desengonçada
de patinhas pra cima
debatendo-as contra o ar


E, de onde vem esse ruído todo
que tanto o assusta?


Ah!...querido, isso?!

São só os hormônios
escorrendo
os séculos...


(sou tão só uma borboleta triturando as asas nas paredes do casulo...
deve fazer um barulho dos Infernos mesmo...


E, é quente, viu!
muito quente!)

Lou Albergaria

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

OS VERSOS COLHIDOS DOS SÓIS...

"

E
S
P
E
R
o Aquela que há de vir,
Surgida das névoas
Dos tempos primeiros;
Mais primeiros e imemoriais,
Aquela, das trevas primitivas,
Que há de chegar,
Meio miração, meio miragem
Dos que se miram na ação
E dormem, e mortos nascem
Nos desenhos e olhos,
Do cipó feito jibóia.
E, dos sonhos de ervas,
saída.


Onde o canto dos pássaros?
Onde a ópera dos grilos, e a ode dos sapos?
e a ventania que a folha não farfalha?


Ouvi! Atentai!
Aquela, última-primeira,
É agora, dos idos das eras
E do escuro das névoas, já
chegada.
E chegando traz flores feito sorriso,
E caiçuma de astros,
E se entrega, feito poesia
na cuia de seu corpo,
onde, minha alma, há de beber
a liberdade, até embriagar-se
de utopia e sóis."

Miguel Jorge Silva  /070911

Um lindo amigo da cultura indígena. Amei essa forma de fazer poesia utilizando os elementos da natureza de uma forma tão pura, buscando saciar a sede direto da fonte, mina d'água absurdamente límpida que até constrange... Um lirismo exuberante! Obrigada, querido!!!

domingo, 28 de agosto de 2011

NUVENS DE LARA




para Lara Amaral


    

                                      Queria

                       Tanto                            Ser


                                        Clara



                           Um


              Papel                     De


                             Nuvem




                                                     Um

                                   Papel                           de



                                                        Lara


                                     Que



colhe


                                       os versos



                   Num                                carrossel



                                    de anjos



Entre



                                                                                                o arco-íris, e...













                                                                  ...o precipício


 
Mas,



                                                  canta e baila



                                                          Tão clara



                                            tão nuvem                    tão anjo



                                                               Tão rara



 Lou Albergaria

Imagem: Livro das Poetisas do MARIA CLARA

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

poesia asa da peste



não sei a poesia concreta
e, faço
não sei o amor
e, faço


às vezes, sim
às vezes, não
às vezes tô afim
às vezes o fim tá afim de mim 

                                       o

                                    t

                                 e

                               r

                            e

no concreto 


 a


     t


       o


          l


            o


o ódio
cabra da peste
da moléstia...

Lou Albergaria

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

PÁSSARO AZUL




Vejo o poeta embrulhado num pedaço do céu

azul,
tinjo de esperança
o verso na noite

quantas armadilhas ecoam um sentimento oco...

com palavras construo poesias, e
mentiras
despalavram-me


... pode o amor ser tão abstrato
quanto o ar entre penas, ...que

faz um vôo tão alto
ser abatido
pela falta do movimento

despalavro pássaros cuja imobilidade
despoesia-me


Lou Albergaria

terça-feira, 9 de agosto de 2011

mortem, quae sera tamen!



em Love Story sempre fui kamikasi

matei meu amor de tanto
desejar tê-lo possuído
fechava os dedos a espremê-lo, e
ele espargia na tangente
pelas frestas dos dedos

não faço MEA CULPA

somos o que podemos ser
não o que gostaríamos de ter sido

quando nossa história nos torna kamikasis
só nos resta, honrosamente
morrer, ainda que tardia!

Lou Albergaria

segunda-feira, 8 de agosto de 2011


Presente de aniversário que recebi do Lindo Poeta Nathan de Castro. Mais um magnífico poema!

OBRIGADA,  Poeta!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Ostra feliz não faz pérola



"Ostras são moluscos, animais sem esqueletos, macias, que são as delícias dos gastrônomos. Podem ser comidas cruas, de pingos de limão, com arroz, paellas, sopas. Sem defesas - são animais mansos - seriam uma presa fácil dos predadores. Para que isso não acontecesse a sua sabedoria as ensinou a fazer casas, conchas duras, dentro das quais vivem.

Pois havia num fundo de mar uma colônia de ostras, muitas ostras. Eram ostras felizes. Sabia-se que eram ostras felizes porque de dentro de suas conchas saía uma delicada melodia, música aquática, como se fosse um canto gregoriano, todas cantando a mesma música. Com uma exceção: de uma ostra solitária que fazia um solo solitário.

Diferente da alegre música aquática, ela cantava um canto muito triste. As ostras felizes se riam dela e diziam: 'Ela não sai da sua depressão...'. Não era depressão. Era dor. Pois um grão de areia havia entrado na sua carne e doía, doía, doía. E ela não tinha jeito de se livrar dele, do grão de areia. Mas era possível livrar-se da dor.

O seu corpo sabia que, para se livrar da dor que o grão de areia lhe provocava, em virtude de sua aspereza, arestas e pontas, bastava envolvê-lo com uma substância lisa, brilhante e redonda. Assim, enquanto cantava o seu canto triste, o seu corpo fazia o seu trabalho - por causa da dor que o grão de areia lhe causava.

Um dia passou por ali um pescador com seu barco. Lançou a rede e toda a colônia de ostras, inclusive a sofredora, foi pescada. O pescador se alegrou, levou-a para casa e sua mulher fez uma deliciosa sopa de ostras. Deliciando-se com as ostras, de repente seus dentes bateram num objeto duro que estava dentro de uma ostra. Ele o tomou nos dedos e sorriu de felicidade: era uma pérola, uma linda pérola. Apenas a ostra sofredora fizera uma pérola. Ele a tomou e deu-a de presente para a sua esposa.

Isso é verdade para as ostras. E é verdade para os seres humanos. No seu ensaio sobre O nascimento da tragédia grega a partir do espírito da música, Nietzsche observou que os gregos, por oposição aos cristãos, levavam a tragédia a sério. Tragédia era tragédia. Não existia para eles, como existia para os cristãos, um céu onde a tragédia seria transformada em comédia. Ele se perguntou então das razões por que os gregos, sendo dominados por esse sentimento trágico da vida, não sucumbiram ao pessimismo.

A resposta que encontrou foi a mesma da ostra que faz uma pérola: eles não se entregaram ao pessimismo porque foram capazes de transformar a tragédia em beleza. A beleza não elimina a tragédia, mas a torna suportável. A felicidade é um dom que deve ser simplesmente gozado. Ela se basta. Mas ela não cria. Não produz pérolas. São os que sofrem que produzem a beleza, para parar de sofrer. Esses são os artistas. Beethoven – como é possível que um homem completamente surdo, no fim da vida, tenha produzido uma obra que canta a alegria? Van Gogh, Cecília Meireles, Fernando Pessoa....

(ALVES, Rubem. Ostra feliz não faz pérola. - São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2008. - Página 11-12)

****

Esse texto do Genial Rubem Alves me fez lembrar de um poetrix que fiz ontem :

o que a faz pensar que isso é poesia?

...o meu desejo de não morrer
antes da hora combinada

os sapatinhos vermelhos



Da esquina, velhos olhos me espreitam
Eu, sem memória, improviso saudades

Quem sou agora não cabe mais na mesma caixa

Os sapatinhos de verniz vermelho maltratam
bem mais do que os pés

Os caminhos percorridos são veias, que
hoje sangram dentro de uma caixa vazia

Lou Albergaria

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

AULA DE ANATOMIA

(para Lara Amaral)

O poema sem imagem atira-me ao flagelo
Fico sem rota, rumo
Direção incerta

Confusa, atropelo os sentidos entre suas frestas
Femininas fendas dissecam o poema na aula de anatomia

Quem disse que não escorre sangue nas entrelinhas?...
...

e,
reticências...


Lou Albergaria

sempre A menina...



A menina me pede um poema.

Assustada,
sinto medo do escuro

Vejo minha vida
remoída
Em seus dedos miúdos

Suas mãos cresceram
Ficaram maiores que o tempo, mas
A pureza não cabe mais
Dentro delas

Lou Albergaria

quinta-feira, 7 de julho de 2011

terça-feira, 5 de julho de 2011

A MENINA NA ESTRADA DO SOL


A menina que fui ontem
renasce
em doces cachos de amora

Inventario cicatrizes
empilho ruínas, e

... o sol da janela
acena-me num largo sorriso:
“ - e então, vamos!”

Saí de casa sem levar bagagem...

Lou Albergaria

Imagem: Lali

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O PRIMEIRO SOUTIEN A GENTE NUNCA...


Nunca nos esquecemos do quanto é desconfortável crescer, ganhar formas sem que houvéssemos pedido. Por que será que a vida insiste tanto em nos presentear com coisas que não pedimos - cabelos brancos, flacidez da pele, dentes amarelecidos... - ainda que acompanhados de maturidade, equilíbrio, serenidade. 

Dizem que a vida é muito generosa; talvez, por isso, teime em nos dar tanto... medo, dor, alegria, tristeza, perplexidade, espanto, tesão, conflitos, acertos ou enganos... A vida é mesmo dada, até demais pra minha capacidade de assimilação.

Os seios da minha filha pré-adolescente crescem e ela se espanta todos os dias com tantas mudanças em seu corpo e eu me harmonizo com todas essas distraídas surpresas que acolho na alma: envelhecer é um dom que precisa ser cultivado desde a infância.

Acho tão lindo minha filha olhando para seus pequeninos seios e se encantando com o desabrochar da vida; e eu me emocionando com todo o jardim numa estação mais tranqüila e serena.

Essa contemplação de beleza tira dos meus ombros o peso dos dias, mas não as dúvidas do que encontrarei nessa nova fase.

Sempre fui enérgica, vibrante, impulsiva e agora toda essa placidez me assusta, bem como me tranquiliza. No corpo da minha semente vejo o quanto a vida pode ser justa ao nos apresentar o novo não como concorrência, mas para agregar valores e significado a toda uma existência.

Ver os seios da minha Menina despontarem é como se a vida estivesse me dando uma nova chance de rever meus erros e acertos, bem como de buscar novos caminhos que não me deixem acomodada frente às mudanças.

Envelhecer não precisa ser sinônimo de fraqueza e inércia. Lembrar do primeiro soutien da minha pequena Amora me enche de ânimo para tentar de novo todas as manhãs.

A felicidade é um exercício de aprendizado diário em que os tropeços não precisam necessariamente nos derrubar; podem servir de encorajamento, desde que saibamos driblar o confortável papel de vítimas e chamemos a vida pra tomar um chopp. Ou a própria filha daqui alguns anos, quem sabe...

Viver pode ser muito divertido e encantador, sim; basta saber prestar atenção. Ao invés de direcionar toda a libido no que perdemos, devemos nos exercitar para aprendermos a deslocar nosso olhar e percepção para o que ganhamos. E não é nada pouco. Eu e Amora já percebemos isso a olhos despidos...

Crescer e se tornar uma ‘Menina Má’; que não admite padrões, convenções, pessoas mandando em seu desejo, orgasmos, sarcasmos, manipulando o seu pensamento e compreensão do mundo. É um desafio conseguir se esquivar de tantos ‘ismos’ na formação de uma consciência crítica.

Os seios crescem e junto com eles a vontade de rebelião. Fazer motim. Existir incitando a não-acomodação. Não há idade para começar a aprender a viver uma vida que realmente vale a pena ser vivida.

Sinto-me também debutando em meu primeiro soutien, que um dia rasguei , mas hoje não mais. Não sinto mais tal necessidade. O sentimento de poesia agora me envolve e acalanta o espírito.

Os seios que aparecem em Amora são como setas lançadas ao futuro, desbravando caminhos que me mostram o quanto acreditar na vida e em nós, seres humanos, vale a pena. O surgimento de uma pequena Moça renasce em mim a esperança de tentar prosseguir. Sempre. Ainda que haja arranhões no percurso.

Lou Albergaria



sábado, 2 de julho de 2011

A NOVA CINDERELA


Recebi este texto por email - do meu amigo Marcio Nicolau - atribuído ao escritor LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO que foi publicado no Jornal O Estado de São Paulo e O Globo (fonte: blog Conteúdo Livreque considerei bastante pertinente. Nesse texto, o renomado escritor levanta a questão - com sua habitual e deliciosa ironia - acerca dessa CORRIDA quase cega efetuada pelos casais homoafetivos para legalizarem seus relacionamentos.

Segundo o autor, está ocorrendo uma certa retomada aos velhos princípios e valores sociais que até há algum tempo eram considerados ultrapassados.

Quando li o email na mesma hora caiu a ficha. Um dia antes havia comentado com minha filha ao assistirmos no jornal televisivo a mais uma notícia sobre o primeiro casamento gay realizado no Brasil: "olha só, Amora, como os gays estão parecendo princesas de contos de fada". E depois que li o texto do Veríssimo foi que tudo tornou-se ainda mais claro.

Estranho mesmo o ser humano. Gerações anteriores lutaram tanto para transgredirem, buscarem novos rumos e novas formas de expressão da afetividade e até chegaram a protestar contra as instituições - Igreja, Estado e propriedade privada - e agora retoma-se tudo. As pessoas hoje buscam uma maior religiosidade - até com extremismos -, as relações estão mais padronizadas e institucionalizadas; o capitalismo globalizado continua mais exacerbado do que nunca com um consumismo que coloca em risco até a integridade do próprio planeta, enfim, o novo homem rendeu-se aos ideais dos contos de fada - bastante dinheiro e uma relação afetiva estável -. Será? 

De repente, é só mais um modismo, uma chuva de verão. Sinceramente, espero que sim. Não tenho absolutamente nada contra casamentos. Acho extraordinário quando pessoas se encontram e manifestam o desejo de ficarem juntas. Só não creio muito no 'felizes para sempre'. Sei lá, pode ser meu defeito de fábrica. Ou já estou velha demais para os contos de fada... Ou o conto de fadas no qual acredito é outro.

Mas essa é uma reflexão minha. Apresento a seguir o texto original para que seja objeto da reflexão de todos.

Com vocês, o SENHOR VERÍSSIMO:

"O mais notável nessa campanha por casamentos homossexuais não é o avanço dos movimentos gays e o ocaso de barreiras e preconceitos antigos, mas o prestígio do casamento. Com tantos casais heterossexuais dispensando o ritual matrimonial para viverem juntos, a insistência dos gays em se casarem como seus pais deveria aquecer o coração dos mais radicais dos bispos.

Eu sei que em muitos casos a oficialização do conúbio, se esta é a palavra, tem mais a ver com questões legais do que com romance, mas o que a maioria quer é o ritual.

Quer as juras públicas de amor eterno e todo o simbolismo da cerimônia tradicional, mesmo sem véus e grinaldas. Era de se esperar que quem escolheu um relacionamento sexual, digamos, anti-convencional, muitas vezes tendo que enfrentar a incompreensão ou a ira dos conservadores, quisesse distância do que é, afinal, o mais “careta” dos ritos sociais. Mas não. Querem o tradicional.

Este fenômeno deve ter a ver com outro de difícil compreensão. Ouvi dizer que as formaturas nas universidades brasileiras voltaram a ser paramentadas, com becas e tudo, não por insistência de pais tradicionalistas mas dos próprios formandos, que em vez da informalidade que se esperava deles num mundo cada vez mais prático e sem tempo para velhos costumes ou costumes de velhos, exigiram todas as formalidades.

No fim as pessoas querem significado. Querem que o valor do que fazem seja enaltecido pela cerimônia, qualquer cerimônia. Mesmo careta.

Seja como for, aposto que daqui a alguns anos, quando se puder fazer a estatística, menos gays dos que estão se casando agora terão se separado do que casais heteros. Se a instituição do casamento sobreviver aos tempos e aos modos, será em boa parte graças a eles e a elas."

Luís Fernando Veríssimo



" eu vejo o futuro repetir o passado...
eu vejo um museu de grandes novidades..."

O TEMPO NÃO PARA...

... mas o beija-flor para
acima das nuvens
 pétalas murchas
sob o sol que não abre
cabeças formadas
no formol barato
instinto vazio 
o cálice transborda!

Lou Albergaria

Imagens: Google Images

sexta-feira, 1 de julho de 2011

ASFIXIA



a manhã anoiteceu sem prévio aviso.

Imprevisível, revi meus erros
antes do abismo

A poesia enredada
caça os tormentos
por sobre o asfalto

esburacada pele
abrigo de ratos

vermes expelem beijos sem lastro.

Lou Albergaria

Imagem: Google Images

quinta-feira, 30 de junho de 2011

OSSOS DO ARTIFÍCIO: Crônicas urbanas





OLHAR SEMPRE O PRÓPRIO UMBIGO DÁ MEDO...

Direcionar o olhar pra cidade a fim de fazer uma crônica é como sair de dentro de mim e vaguear acima do próprio corpo – tornar-me apenas um espectro ou alma, como queiram – para somente observar pessoas e comportamentos; o que não me isenta em absoluto de eu mesma ser também objeto da minha própria observação. O meu olhar é devorador e incisivo e nem eu escapo de mim, estejam certos.

Às vezes, meu umbigo dói e eu não sei bem porquê. Dizem que ovo duro e banana podem provocar esse desconforto bem no centro do corpo. Talvez, sim; não discuto com a medicina popular. Não raras as vezes ela acerta mais do que renomados doutores. Vai lá saber.

Meu umbigo, entretanto, dói independente do que tenha comido no dia ou na véspera. Confesso que não sou muito chegada em ovo cozido e nem em banana, aliás fruta passou longe do meu cardápio. Sou o melhor exemplo de alimentação não-saudável. Guardo essa rebeldia intrínseca de quem ama burlar as normas pré-estabelecidas. Vai ver por isso estou sempre em pé de guerra com o status quo. E com a balança, é claro. Não só esta que pesa nossos quilos no corpo, mas também as que ponderam nossos quilos na alma.

E fico sempre com essa sensação indigesta de que quanto mais fixo o olhar em meu próprio umbigo, mais minha alma infla e começa a flutuar alguns palmos acima da minha cabeça. É uma sensação bastante incômoda: o descompasso entre corpo e alma. O desejo acima das necessidades e satisfações do ser.

Vivo em uma cidade que morre de medo. Como qualquer outra metrópole do planeta, seja na América do Sul ou na Ásia. O medo está catalogado no código genético do homem urbano. Raro encontrar alguém que ainda não tenha manifestado tal propriedade. Ou impropriedade.

Viver numa grande metrópole implica riscos. E ninguém está salvaguardado, infelizmente. Todos na chuva e bem molhados, ainda que dentro de belas mansões ou carros importados. O medo é muito democrático e socialista, quem diria! Sente medo quem está neste instante numa Lan House no alto do Morro do Cantagalo no Rio de Janeiro, como quem se encontra em Beverly Hills na clínica de cirurgia plástica do Dr. Hollywood, almejando a juventude eterna.

É, não tem escapatória. O medo nivela por baixo mesmo. Ou por alto – e se você estiver dentro de uma aeronave rumando para Cancún ou Punta Del Leste com o objetivo de arriscar a sorte num cassino? Sentimos medo em qualquer situação; até quando achamos que estamos numa boa, ‘curtindo a vida adoidado’ também sentimos medo. Um medo inconsciente que não nos paralisa, mas nos deixa arredios, matreiros em relação ao outro e quem sabe até com a gente mesmo.

Sentimos medo de tudo. Barata, rato (argh!!!!), cheque sem fundos, altura, gilete, faca, tesoura, o menino no sinal de trânsito, os pardais do DETRAN para marcarem os infratores, o teclado do PC, palavras que não vêm à cabeça quando precisamos ou aquelas que não saem nem com reza braba, caralho!

Viver é sentir medo. Absurdo é não ter medo ou ter medo do próprio medo. Um dia ouvi de um rapaz muito especial: “é importante sentir medo para que possamos saber quem somos de verdade e assim podermos enfrentar nossos medos.” Ah, como eu tive medo desse cara...uh, lá,lá... Fico pensando: será que ele teve algum medo de mim?

Não há o que temer. Sou tão imortal quanto qualquer ser na cidade neste momento: possuo um umbigo que dói, se não é notado pelo outro. Somos todos assim; eternamente assim. Escravos do ego e do olhar alheio. E como dói quando passamos despercebidos, não é mesmo? Ainda que discretos, gostamos que nossa discrição seja percebida, comentada, enaltecida. Ninguém escapa da imortalidade do ego. Não é um privilégio apenas de Leões e Lobas. Temos um ego imortal que precisa saber de nós. Isso não é bom nem ruim; apenas é. É o fim?

E, daí?! Se é uma característica de todo mundo não deve ser um problema, né! Por exemplo, se todos nascessem com duas cabeças, isso não seria uma anomalia; ou não? Meu Deus, será que somos todos anormais e nem nos damos conta disso? Se todos fazem a coisa errada, ela fica sendo a certa, é isso mesmo?

Ai... Meu umbigo começou a doer de novo... porra.....deve ter sido a banana que comi de sobremesa no almoço... Ah, gente, tô tentando mudar meus hábitos. Nunca é tarde para alterarmos nossa percepção acerca do mundo e de nós mesmos, assim como os comportamentos que o tempo mostra o quanto são inadequados.

Quem tem medo de mudar? Deslocar o foco, a percepção. Tirar o olhar do próprio umbigo e perceber o outro de forma mais afetuosa, menos arrogante ou prepotente. É um bom exercício pra início de milênio, hein! Ôh, se é! Eu que o diga...

Lou Albergaria



***

Com essa crônica inicio hoje uma coluna semanal - por enquanto - aqui no SEMENTE DE AMORA: OSSOS DO ARTIFÍCIO - Crônicas urbanas - em que pretendo escrever sobre o cotidiano nas grandes cidades, mas sobretudo sobre este personagem intrigante e conturbado: o homo urbanus. Esse ser tão fragmentado e repleto de limitações, bem como de infinitas possibilidades de ideias, sentimentos e desejos. 
Escrever sobre ele é escrever sobre mim, sobre você, enfim, todos nós  que sonhamos e fazemos uma grande cidade!

Por favor, sejam condescendentes, afinal de contas, trata-se da primeira crônica. Espero evoluir muito a partir de hoje. Meu principal objetivo é conseguir captar os instantes de humanidade de uma grande metrópole. Um olhar que captura o sentimento que move o ser; que o faz evoluir, amar, odiar, mudar toda sua rota de vida ou mesmo transcender pela arte e pelo afeto.

Conto com vocês! As críticas são muito importantes nesse processo de aprimoramento.

MUITO OBRIGADA pela leitura de todos!

BEIJOS!

quarta-feira, 29 de junho de 2011

A MENINA DOS OLHOS... DO PÁSSARO



O anjo de asas tristes
caminha sobre o verso vazio.

A menina sonha com a boneca de tranças.

Escorre no peito a vaga lembrança
de uma vela apagada
acordando o dia.

A água desmancha as cores do beijo
na face:
aquarela; tempestade.

Que menina é essa
empalhada no olho do pássaro...

... não se move
nem quando a convido
para brincar

Lou Albergaria
 
Tela: Olaf Hajek

segunda-feira, 27 de junho de 2011

AS REDES SOCIAIS FORA DA MEDIDA CERTA


Tenho recebido nos últimos dias, muitos emails em que alguns 'intelectuais' condenam as redes sociais de uma forma veemente, até. Então, eu me pergunto: se essas redes são tão idiotizantes assim pra que gastar tinta do encéfalo para elaborar textos extraordinários a fim de passar a mensagem de que no fim das contas, só os mal amados e solitários com forte tendência a fobia social se metem nesses 'buracos' vazios de inteligência e calor humano?

Ora, ao meu ver, parece que incomoda demais este "buraco negro e oco" que já tomou conta do mundo contemporâneo: as redes sociais.

No último artigo que li a respeito, o jornalista Zeca Camargo abomina o Facebook, embora tenha adorado o filme homônimo, mas destaca inúmeras limitações humanas nas redes virtuais.  Entretanto, percebo que as tais limitações apontadas por ele são inerentes à condição humana e em qualquer momento da vida, até mesmo dita "real", elas podem vir a se manifestar, como o distanciamento, a solidão, a falta de integração, entre outros. Não é preciso ir para uma rede social para se isolar do mundo. Aliás, enxergo justamente o contrário: é pelo fato da pessoa estar se isolando no meio social em que vive é que acaba por buscar um PALIATIVO a fim de tentar reverter esse processo e, por isso, busca nos meios sociais alguma integração, já que esta não consegue ser alcançada em seu cotidiano.

Num certo momento de seu artigo, o jornalista até se ufana por pertencer a uma geração que privilegia as relações intrínsecas de amizade baseadas no contato físico com um aconchegante CALOR HUMANO, blá blá blá.... mas que porra de calor humano é esse que muitas vezes acaba por confinar pessoas no isolamento de seus EGOS, como o do próprio jornalista em questão, que em vários momentos assumiu uma postura de superioridade em relação às pessoas que fazem uso das ditas redes sociais.

Não quero assumir a postura de DEFENSORA PÚBLICA das redes. Apenas me recuso a ser mais uma intelectualóide a jogar "pedra na GENI" sem nem saber direito se o galo já cantou três vezes, ou não...
Percebo nas redes sociais muita imbecilidade, sem dúvida; a mesma imbecilidade que percebo no dia a dia, looool.... Ser imbecil é normal; e diria que até necessário no processo de sobrevivência. Não é à tôa que aquele ditado "fingir-se de égua" é bastante providencial, às vezes. Mas, claro, que não sempre. Como hoje por exemplo ao ler esse artigo em especial.

Senti um forte tom de desprezo às redes, de forma exagerada. Tudo bem, não estou dizendo que nas redes encontro a reencarnação dos filósofos clássicos, nem os eternos poetas, claro que não. Mas, em contrapartida, as redes não são o ancoradouro apenas dos BOÇAIS. Existe vida inteligente também no mundo virtual. A maior prova disso é que só tomei conhecimento deste e outros artigos pela própria NET. Fico ainda mais indignada. As pessoas que criticam a rede usam a própria rede para expor suas opiniões e preconceitos.

De forma alguma acredito que as redes sociais são formadas única e exclusivamente por pessoas carentes de afeto e com dificuldades de relacionamentos interpessoais. Qualquer forma de generalização é limitadora da verdade. Mesmo porque pessoas carentes e com problemas de relacionamento há em toda parte e a toda hora. Atire a primeira pedra quem for esse SUPER HOMEM de Nietzsche absolutamente autosuficiente e PLENO de suas capacidades intelectuais, humanas e afetivas. Esse ser está pra nascer ainda; isso, se nascer. E não creio que as redes sociais são o que impedem a concretização desse ser humano.  As redes não são causa; e sim consequência. Vivemos em um mundo cada vez mais segmentado, produzindo seres ainda mais fragmentados, com uma sede de consumo cada vez maior e pouco discernimento de valores e princípios éticos e morais; claro que essa fragmentação é levada para as redes sociais. Como é levada para o supermercado, açougues, livrarias, faculdades, empresas públicas e privadas e até para os banheiros, sem dúvida. Somos fragmentados e limitados em qualquer tempo ou lugar. É uma condição humana da qual jamais poderemos abrir mão. Por mais completos que sejamos ainda assim faltará algo. Isso é que mais nos torna humanos, não a intelectualidade pura e simples. Embora essa capacidade de nos PERCEBERMOS fragmentados advém da condição intelectual. 

Não por acaso OSCAR WILDE já dizia no século XIX: a ignorância é a melhor forma de nos mantermos felizes. A inteligência nos leva ao sofrimento; tomar consciência dessa incapacidade humana - as limitações humanas - gera sofrimento.  Entretanto, não vejo as redes sociais como mais uma forma de manifestação dessa limitação. Ao contrário: apreendo nas redes uma expansão de alma e intelecto. Ao cruzar com meus pares, ainda que virtuais, esbarro em mais uma possiblidade de crescimento interior DESDE QUE haja humildade e abertura da minha parte para assimilação de novos conceitos e NOVÍSSIMAS FORMAS DE RELACIONAMENTO. Condições essas que sinto faltar entre nossos super intelectuais tão loucos para se enquadrarem na MEDIDA CERTA.

Existe mesmo uma medida certa para nos relacionarmos com afeto e inteligência?

Eu, como só sei que nada sei, continuo nas redes... procurando, procurando, procurando... talvez o que a Luzia tomou atrás da moita ... ou do ego...

Para lerem o artigo do ZECA CAMARGO que me fez pensar um pouco mais sobre as redes sociais e serviu de inspiração para escrever às pressas esse artigo, é só clicar:


Depois escrevo mais a respeito. Li um artigo do Jabor também muito instigante: FACEBOOK E OUTROS BURACOS, muito bom...para ser criticado....hahaha....

INTÉ!

quarta-feira, 22 de junho de 2011

o céu que nos protege...



Em semifusa demência
descomponho o que não compreendo

Minh'alma canta em braille
acordes de vento
asas confusas arrefecem o gelo
em brancas nuvens

Somente o céu azul me protege
do mau uso que faço da chuva...

menos hoje:
que deixei negro até o sol

Lou Albergaria

Imagem: cena do filme 'O Céu que nos protege' de Bertolucci

... SÓ DEZ CENTÍMETROS DE DILATAÇÃO...



Reflexos na pele
coagulo vontades, desejos

defeitos que me conferem auréola

a mulher em meu ventre
dilata sombras no arco-íris

Preciso me parir para sentir o sol

Lou Albergaria

Diálogo poético com Carmen Presotto em VIDRÁGUAS.

terça-feira, 21 de junho de 2011

RASGANDO A INOCÊNCIA NO CAMPO DE CENTEIO...



Menino-girassol atiça meus sonhos
Contra o aparador das horas

Caminho seus passos cansados
no campo de centeio
Apanhando das estrelas marinhas
O azul que nunca chegou a sorrir

em nós... por isso,

Não é nosso o amor que abre ninhos, nem
Pétalas de chuva sob o mesmo chapéu-de-sol ...

Lou Albergaria



Filme: O Apanhador no campo de centeio

"Fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos, e ninguém por perto - quer dizer, ninguém grande - a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o quê que eu tenho de fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser só o apanhador no campo de centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa que eu queria fazer."


(J.D. Salinger - O apanhador no campo de centeio)

segunda-feira, 20 de junho de 2011

MENINA DAS ASAS ESCONDIDAS EM CACHOS DE AMORA...



Esbarro em sua polpa
um certo feitiço me estranha:

não estou preparada pra tanta pureza...

amora ruboriza minha face
jasmim é seu cheiro de fonte

água doce, terna, e
morna, como o primeiro leite da manhã

(beijo de mel...)

o verdadeiro afago do dia
é quando a abelha-rainha despeja
seu néctar de hortelã

na colcha de retalhos, onde
embrulho a Menina que um dia fui:
asas escondidas, medo e solidão

Lou Albergaria

sexta-feira, 17 de junho de 2011

quinta-feira, 16 de junho de 2011

RELÓGIO QUEBRADO



Chorar atrasa a alegria...
feito o relógio quebrado, que
está sempre marcando
a hora de amanhã, que
já passou...

Lou Albergaria


quarta-feira, 15 de junho de 2011

ADORO GENTE DE VERDADE!



Na edição de Junho/11, a REVISTA CLAUDIA trouxe uma entrevista linda com a atriz CISSA GUIMARÃES que perdeu seu filho caçula - Rafael - há quase um ano. No fechamento da matéria, encontrei algo muito interessante que compartilho com vocês:

A filosofia de Cissa


“Não tenho certeza de nada, não me acho a melhor atriz, vejo defeitos na minha vida. A maturidade acrescentou clareza às minhas incertezas. Eu as aceito.”

“Com relação ao amor, sou um pouco idiota e ingênua, mas não burra. Sei que não vai durar para sempre; mesmo assim acredito.”

“Respeito meu dinheiro. Não vou a shopping, não sou uma fashion victim. Acho ridículo andar igual a todo mundo. Para mim, tanto faz uma bolsa Hermès ou de feira.”

“Parei de ir à praia do Arpoador. As pessoas vão lá para ver paparazzi. Pego a bicicleta para olhar as tardes lindas e mergulhar numa praia mais vazia.”

“Antes, era audaciosa. Hoje tenho meus medos. Viajar só e ficar parada com o carro quebrado está descartado. Não me coloco tanto em perigo.”

Também acredito em tudo isso, Cissa!

Adorei uma frase que ela disse durante a entrevista:
 
"Digo que estou ótima sozinha, mas, se pintar alguém especial, eu quero, sim.”
 
Ôhhhhh, se quero!!!!!
 
CONFIRAM TODA A MATÉRIA: AQUI! Vale a pena; uma super lição de vida.
 
Que bom saber que as perdas não tiram nossa sensatez. Ao contrário, aguçam-na!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

CORES POESIA...



repito-me até descolorir o azul
mancho-me de cinza

tinta que escorre da brisa e,
na revoada das horas
amanheço garça

tingida de nuvem
carrego quem não sou
guardada da chuva…

Lou Albergaria

Eu leio asas...
Renasço anjo
Caído
de abismos, Outras nuvens...

Lou A.

domingo, 12 de junho de 2011

DE LEMINSKI PARA ALICE RUIZ: A OUTRA METADE DO CÉU

"A vida não me deu irmãs. Me criei apenas com um irmão mais moço. Meu pai era militar e minha mãe, filha de militar, uma mulher carinhosa e dedicada, mas muito contida de gestos e expressões.

Assim, cresci num ambiente onde a presença da mulher era muito discreta. Nossa casa tinha aparência sombria e austera, uma casa masculina com certeza. Sempre invejei meus amigos que tinham irmãs, aquelas pessoas tão diferentes que passam horas diante do espelho, mordem os lábios para eles ficarem vermelhos como maças maduras, da cor daquela maçã que Eva deu a Adão, dando começo a esta deliciosa história.

Me lembro que ficava imaginando : como será conversar com uma irmã? O que será que elas pensam da vida?

Com toda a minha ignorância, não é difícil vocês fazerem uma idéia de como foi complicado o começo da minha vida sentimental.

Simplesmente eu não sabia como conversar com pessoas do sexo oposto. Estampa até que eu tinha ...Mas, ao lado ou diante de uma garota, eu era uma lástima. Era como se pertencêssemos a duas espécies diferentes do mundo animal. Tente imaginar uma conversa entre uma borboleta e um colibri. Era algo assim.

Depois de trocar banalidades de praxe, filmes, discos, ídolos, minha cabeça dava um nó. Silêncio total. E agora? A garota ali, esperando que eu fosse engraçado, fascinante, emocionante como um parque de diversões. Pensando nisso, hoje, me ocorre que talvez a garota ao meu lado também estivesse tendo problemas. Pode ser até que tivesse crescido sem irmãos e achasse um rapaz o mais esquisito dos seres. Na época, isso nem me passava pela cabeça, eu fervilhava de emoções.

Mas, na hora em que elas iam sair, alguma coisa acontecia na passagem das emoções para as palavras, e era aquele curto-circuito, aquele coração batendo que nem um louco, e eu dizendo coisas profundíssimas do tipo: 'Aceita um chiclete?'

Só que eu nunca desisti. Por mais estranhas que me parecessem, alguma coisa em mim dizia que eu tinha nascido para viver com aqueles seres feitos de maravilha e mistério, que a felicidade para mim era uma palavra feminina. Tinha certeza de que, um belo dia, a maldição de não poder me comunicar com o sexo oposto ia acabar.

Foi quando comecei a escrever poesia. Eu enchia cadernos e mais cadernos de versos, frases, esboços de contos, onde invariavelmente, um rapaz tímido tentava se comunicar com uma garota, ela também o amava, mas alguma coisa não deixava que os dois se integrassem.

Mostrava esses poemas a algumas irmãs de amigos meus. E eu tinha vontade de morrer quando, ao ler meu poema, a garota dizia apenas: 'Lindo! Ah, se alguém fizesse um poema desses inspirado em mim...' Me dava aquele branco e eu não dizia a frase fundamental: 'Foi inspirado em você'.

Eu não sabia , mas com todos aqueles dolorosos fracassos eu estava chegando mais perto do mistério da mulher, estava começando a decifrar esse misterioso idioma.

Um dia conheci uma poetisa, que veio me visitar na festa de um aniversário meu. Chamava-se Alice e tinha sido trazida por algumas amigas. Trocamos duas frases, e foi o que bastou. Até hoje, não sei explicar direito o que aconteceu. Só sei que atravessamos a madrugada conversando sem parar, confidências pra cá e pra lá, sonhos, broncas, projetos. Em nossa volta, a festa foi desaparecendo, as pessoas virando fantasmas, e no meio da multidão ficamos só nós dois, falando a mesma linguagem, como se tivéssemos nascido os dois naquele dia. Juntos.

De lá para cá, o mundo feminino, a inteligência e a sensibilidade da mulher começaram, devagarinho, a fazer sentido. Enfim, eu começava a enxergar, deslumbrado, a outra metade do céu."

Paulo Leminski


Há pessoas de muita sorte nessa vida:
nascem de cara pro amor...
Enquanto outras, se escondem 
do pote de ouro
no arco-íris:
o encontro de almas tão desejado...

o pólen que nunca se entrega à flor...

Lou Albergaria

quinta-feira, 9 de junho de 2011

A FENDA E O ECLIPSE



A vida irrompe
Fendas cansadas
Melodias que ardem
Pétalas úmidas

O canto da cotovia anuncia: Amantes
com tanto medo da Lua

O amor que não ama
esquece o rumo do ninho.

Mas,
o pássaro insiste... viver
Suas asas

Assim como a poesia não desiste
pousar os seios
sobre o seu peito

em uma noite tão fria
de eclipse.

Lou Albergaria

quarta-feira, 8 de junho de 2011

O FEL ENTRE LÁBIOS E LUA...



No escuro da alma
revelo o seu véu

De fel, também são feitas Lua e estrelas, e
os poemas perdidos à sombra do tempo

Tempestades que assombram o hálito da noite

Virgem sentimento
Página em branco

Como o beijo que jamais trocamos.

Lou Albergaria

terça-feira, 7 de junho de 2011

UM POEMA VOLÁTIL...



Sonhei um poema fácil
estrutura livre, e de
ausente armadura

Senti seus lábios
vagueando entre versos
soltos e leves

Flutuei acima de nuvens

Molhada, a poesia escorre
juntando beijos e letras

E eu, aprendo a amar
protegida de toda impostura

Lou Albergaria

***

É tão bom estar de volta em casa... sem um 'covil psicodélico' a me.......... rodopiar na pista.... Agora, eu tô no colo da manhã. 

Tomem assento e vamos zarpar...  em busca da poesia perdida.

nós entre tantos nós
precisamos reatar
desatar o que cega
luz noturna pede calma
no fim do túnel
odalisca errante
emoldura o sorriso
nem tão liso
de improviso
eu canto o pranto
emoliente derrete
a couraça do ventre
impotente tormento
desmascara
a máscara de tão rente
substitui a cara
o ciclo se fecha: Renascimento!

sexta-feira, 27 de maio de 2011

NINHOS DE PERGAMINHOS



Cada pessoa, uma sina.
Eu, só caminhos que
Correm pro útero

Ninho. Colo de Mãe.
Semente. Lã.

Teço suspiros no algodão doce.
O fim da estrela é o começo da manhã.

Lou Albergaria