" (...)
Cantando amor, os poetas na noite
Repensam a tarefa de pensar o mundo.
E podeis crer que há muito mais vigor
No lirismo aparente
No amante Fazedor da palavra

Do que na mão que esmaga."

Hilda Hilst

Se gostou, volte sempre!!!!

sábado, 2 de julho de 2011

A NOVA CINDERELA


Recebi este texto por email - do meu amigo Marcio Nicolau - atribuído ao escritor LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO que foi publicado no Jornal O Estado de São Paulo e O Globo (fonte: blog Conteúdo Livreque considerei bastante pertinente. Nesse texto, o renomado escritor levanta a questão - com sua habitual e deliciosa ironia - acerca dessa CORRIDA quase cega efetuada pelos casais homoafetivos para legalizarem seus relacionamentos.

Segundo o autor, está ocorrendo uma certa retomada aos velhos princípios e valores sociais que até há algum tempo eram considerados ultrapassados.

Quando li o email na mesma hora caiu a ficha. Um dia antes havia comentado com minha filha ao assistirmos no jornal televisivo a mais uma notícia sobre o primeiro casamento gay realizado no Brasil: "olha só, Amora, como os gays estão parecendo princesas de contos de fada". E depois que li o texto do Veríssimo foi que tudo tornou-se ainda mais claro.

Estranho mesmo o ser humano. Gerações anteriores lutaram tanto para transgredirem, buscarem novos rumos e novas formas de expressão da afetividade e até chegaram a protestar contra as instituições - Igreja, Estado e propriedade privada - e agora retoma-se tudo. As pessoas hoje buscam uma maior religiosidade - até com extremismos -, as relações estão mais padronizadas e institucionalizadas; o capitalismo globalizado continua mais exacerbado do que nunca com um consumismo que coloca em risco até a integridade do próprio planeta, enfim, o novo homem rendeu-se aos ideais dos contos de fada - bastante dinheiro e uma relação afetiva estável -. Será? 

De repente, é só mais um modismo, uma chuva de verão. Sinceramente, espero que sim. Não tenho absolutamente nada contra casamentos. Acho extraordinário quando pessoas se encontram e manifestam o desejo de ficarem juntas. Só não creio muito no 'felizes para sempre'. Sei lá, pode ser meu defeito de fábrica. Ou já estou velha demais para os contos de fada... Ou o conto de fadas no qual acredito é outro.

Mas essa é uma reflexão minha. Apresento a seguir o texto original para que seja objeto da reflexão de todos.

Com vocês, o SENHOR VERÍSSIMO:

"O mais notável nessa campanha por casamentos homossexuais não é o avanço dos movimentos gays e o ocaso de barreiras e preconceitos antigos, mas o prestígio do casamento. Com tantos casais heterossexuais dispensando o ritual matrimonial para viverem juntos, a insistência dos gays em se casarem como seus pais deveria aquecer o coração dos mais radicais dos bispos.

Eu sei que em muitos casos a oficialização do conúbio, se esta é a palavra, tem mais a ver com questões legais do que com romance, mas o que a maioria quer é o ritual.

Quer as juras públicas de amor eterno e todo o simbolismo da cerimônia tradicional, mesmo sem véus e grinaldas. Era de se esperar que quem escolheu um relacionamento sexual, digamos, anti-convencional, muitas vezes tendo que enfrentar a incompreensão ou a ira dos conservadores, quisesse distância do que é, afinal, o mais “careta” dos ritos sociais. Mas não. Querem o tradicional.

Este fenômeno deve ter a ver com outro de difícil compreensão. Ouvi dizer que as formaturas nas universidades brasileiras voltaram a ser paramentadas, com becas e tudo, não por insistência de pais tradicionalistas mas dos próprios formandos, que em vez da informalidade que se esperava deles num mundo cada vez mais prático e sem tempo para velhos costumes ou costumes de velhos, exigiram todas as formalidades.

No fim as pessoas querem significado. Querem que o valor do que fazem seja enaltecido pela cerimônia, qualquer cerimônia. Mesmo careta.

Seja como for, aposto que daqui a alguns anos, quando se puder fazer a estatística, menos gays dos que estão se casando agora terão se separado do que casais heteros. Se a instituição do casamento sobreviver aos tempos e aos modos, será em boa parte graças a eles e a elas."

Luís Fernando Veríssimo



" eu vejo o futuro repetir o passado...
eu vejo um museu de grandes novidades..."

O TEMPO NÃO PARA...

... mas o beija-flor para
acima das nuvens
 pétalas murchas
sob o sol que não abre
cabeças formadas
no formol barato
instinto vazio 
o cálice transborda!

Lou Albergaria

Imagens: Google Images

12 comentários:

  1. Oi Lou,
    Li o texto e de facto dá para pensar na involução dos costumes em actos formais. Vou meditar nessa vertente sociológica.
    Bj.

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  2. Quanto a união homossexual, nada tenho a declarar, pois o ideal para mim, ainda é o sistema rotineiro, isto é homem e mulher. Adoro aquela “fruta” maravilhosa capaz de criar novas vidas, desde que o mundo é mundo. Há de convir-nos de que em cada cabeça há uma sentença diferenciada.

    Agradeço-lhe pela sua presença em meu cantinho.
    Mesmo porque a poesia romântica traz um “tesão” inexplicável, como se todos os poemas fossem eróticos!

    Receba também o meu super beijo, desejando-lhe um final de semana feliz com um colossal “tesão” e muita poesia!

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  3. Agradeço pela participação do Josmael e Machado!

    Mas que fique claro: NÃO TENHO ABSOLUTAMENTE NADA CONTRA A UNIÃO GAY; apenas me incomoda essa NECESSIDADE de oficializar a união. Só isso. Essa necessidade de auto-afirmação. Isso que considero um retrocesso.

    Apenas quis levantar um questionamento e reflexão, pois não sou muito afeita a instituições. rsrs...

    Beijos!!!

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  4. Veríssimo, como sempre, sensacional. Compartilho seu entendimento no sentido de que se busca, acima de tudo, proteção legal.
    Muito boa sua postagem.

    bjs.

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  5. Marilene,

    obrigada pela visita!

    Proteção legal se obtém sem a necessidade de cerimonial. O que percebo é uma ostentação da aliança no dedo.

    Beijos! É sempre bem-vinda!

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  6. Lou, o ser humano se assusta diante daquilo que busca, o "novo"... Na verdade 'Como nossos pais' (Belchior), é a mais pura verdade, no fundo, depois de nos rebelarmos por liberdade, voltamos a fazer tudo como fazíamos nossos pais e quando não fazemos, perdemos o senso de unidade familiar que baseia a nossa humanidade na 'segurança' de estarmos bem e 'felizes'.
    Digo que apesar de respeitar as escolhas alheias, ainda penso que o que forma o casal é um homem e uma mulher, fora disto pode ser uma dupla, um trio ou qualquer outra coisa, que também devemos respeitar, se queremos ser respeitados. Mas eu mesma tenho minhas contradições, casada há 19 anos, tenho um casamento leal, com verdade, isto não inclui fidelidade sexual, pois afinal de contas não somos monogâmicos e em algum momento amaremos uma outra pessoa, só não vejo onde que tem que ser que para amar uma nova pessoa, tenhamos que deixar de amar quem amávamos.

    Acho que me estendo demais e passei para um assunto paralelo.

    Obrigada por tua visita em meu cantinho e por tuas tão doces palavras, vindas de uma mulher que pensa, me sinto extremamente lisonjeada!

    Obrigada e ótimo fim de semana!!!

    Beijos!

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  7. para completar esse maravilhoso texto. Eu me lembrei de uma frase de shakspeare.A mente que se abre a uma nova ideia nunca mais volta ao seu tamanho normal.
    Quando abrimos nossa mente a novas crenças e entendimentos ou até mesmo aceitação de outros costumes, outras crenças, ou outros modos de viver a sexualidade. Nunca mais nos tornamos tão mediocres em idéias.
    As pessoas estão presas a conceitos erroneos sobre vários assuntos. E não se abrem, não querem se abrir.
    Por isso tanto preconceito, tanta raiva por parte dos ditos normais.
    Beijos achocolatados

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  8. Concordo com vc. Compreendo tbem a necessidade de se conquistar direitos em um país ainda tão acostumados com vícios do passado. Só penso ser preciso a atenção redobrada, para q os movimentos não assumam os ranços e revoltas de quem os dirige. Penso, tbém, q naturalmente a pessoa se faz respeitada. Sem alardes...

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  9. Isso aí, o tempo não para. Sigamos em frente.

    Beijo grande, retribuindo a visita. Volte no meu blog sempre :*

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  10. Dorei, obrigada por sua visão que também amplia a minha, sem dúvida. Trouxe um bom tema a ser discutido em um futuro post. Beijos!!!


    Sandra, a intolerância é mesmo um retrocesso. Devemos sim nos abrir à evolução. Obrigada! Beijos!


    Américo, Lindo poeta, respeito é tudo. Fecho contigo! Beijão!!!


    Júnior, tome assento no caleidoscópio. Beijos!!!

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  11. Sei não,,,,a cada dia que passa o mundo fica mais louco, mas enfim, que cada um seja feliz como escolher,,,assim como no final do post,,o tempo não pára,,não podemos parar tambem,,,,beijos querida e uma linda semana pra ti...

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  12. Percebo que estamos num mundo por demais carente.
    Cadinho RoCo

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