" (...)
Cantando amor, os poetas na noite
Repensam a tarefa de pensar o mundo.
E podeis crer que há muito mais vigor
No lirismo aparente
No amante Fazedor da palavra

Do que na mão que esmaga."

Hilda Hilst

Se gostou, volte sempre!!!!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

DO AMOR E OUTROS DEMÔNIOS...


O título deste post também intitula um inesquecível livro do Gabo – Meu delicioso García Márquez – que conta a história de um jovem padre chamado para arrancar o “diabo” do corpo de uma mocinha de seus 13 anos, cujo cabelo não parava de crescer e já se arrastava até os pés, mas nada conseguia fazer essas melenas (símbolo de sedução e voluptuosidade) pararem de roçar o chão.

Gabo adora essas ninfetas de 13 anos, impressionante. Também em MEMÓRIA DE MINHAS PUTAS TRISTES aparece a Delgadina, uma moça próxima de 13 anos, a virgenzinha predestinada ao protagonista do livro: o velho senhor que acaba de completar 90 anos que quer se dar de presente de aniversário uma noite de sexo louco com uma virgem. Entretanto, o destino lhe prega uma peça que o faz ‘cair de quatro’ literalmente pela moça, e se apaixonar enlouquecidamente por ela, a ponto de quebrar todo o quarto do puteiro em que estavam, totalmente enfurecido pela cólera dos ciúmes, diante de uma possível traição que nem sequer houve.

Que porra de sentimento é esse que nos arrebata e nos aprisiona em uma bolha claustrofóbica e nos leva a cometer os maiores desatinos em nossas vidas?!
No primeiro livro, o coitado do padre é obrigado a enfrentar toda sorte de provações para conseguir viver aquele amor e nem consegue alcançar um ‘final feliz’.

No segundo livro, pelo menos, fica aquela expectativa no ar e nas aspirações dos leitores mais desvanecidos: será que eles conseguirão viver aquele amor? Ao que Rosa Cabarcas, a dona do puteiro, morrendo de rir, responde ao velho senhor de 90 anos e a nós leitores na última página do livro:

“Ai, meu velho sábio triste, está bem que você esteja velho, mas não idiota. Essa pobre criatura está zonza de amor por você”, referindo-se à menina Delgadina.

Resolvi hoje escrever sobre ‘o amor e seus demônios’... Por que?! Sei lá, por que. Talvez porque seja o que de mais sinta falta na vida. Os demônios, obviamente. Amor é o que mais transborda em mim e até me denuncia antes mesmo de eu chegar perto.

Sinto mesmo que faltam ‘os demônios’: hipocrisia, senso de manipulação e espírito de jogatina na hora do blefe de um bom jogador ou ‘amante profissional’, tanto faz, pois tomo ambos como sinônimos. Um bom amante conquistador e sedutor, antes de tudo, deve ser um bom jogador. Aprende-se isso desde cedo, por volta dos 13 talvez. Saber manipular as carências, desejos e anseios do outro é uma arte. E uma arte primorosa que deve ser curtida como um bom doce de figo para que fique macio, tenro, delicioso na medida certa: sem faltar açúcar e nem açucarado demais para não enjoar antes mesmo de ser levado à boca.

Todos os dias acordo com uma apreensão estranha: serei capaz hoje de fazer um poema? Serei capaz hoje de amar? Mesmo que seja um mau poema e um mau amor. Até os maus poemas são difíceis de serem paridos, quando sinceros, porque todo parto implica dor e morte de alguma forma. Para um poema nascer, o poeta morre um pouco em sua dor. É como um nervo exposto de um dente obscenamente cariado. Ou morte da placenta, no mínimo. Depois vêm as mortes subjacentes. Morte da rima, do ritmo, do verso, do sentimento que o gerou e depois o sentimento que o matou, pois um poema não pode ser infindável. Infinito, sim. Infindável, nunca. A vida não é eterna, então o poema também não pode ser, pois este nada mais é que a própria vida em versos. Às vezes bons versos; outras nem tanto assim. Aliás, como a própria vida: às vezes, incríveis momentos, às vezes péssimos momentos. E assim como nasce e morre o poema, também nasce e morre o amor. Para daí a pouco nascer novamente um outro poema e um novo amor. C’EST LA VIE! Ou como diria Fellini: A VIDA É SONHO!

Não sei se a vida é sonho, mas sei que faltam alguns ’demônios’ para ela ser completa, plena. Falta saber jogar ‘xadrez ou pôquer’ durante a conquista amorosa. Será também durante a feitura ou parto de um poema? Há poemas que são verdadeiras obras cerebrais, mas absolutamente ocos por dentro; não encontramos o sangue do poeta nos versos. Da mesma forma há amores também absurdamente ocos, inócuos, vazios, não conseguem se manter de pé por muito tempo e, nem por pouco tempo, o que já seria por si só um luxo.
Pessoas que suportam extrema dor são perigosas porque não se contentam com pouco - uma vida calma e simples amalgamada à rotina -. Quem necessita o êxtase não sabe viver sem amor e poesia ( os de verdade naturalmente, aqueles que sangram mesmo, delatam e dilaceram a própria existência), mas sobretudo, sem os demônios. Esses são absolutamente imprescindíveis. Qualquer que seja ele.
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Texto postado também para o FÁBRICA DE LETRAS. É só clicarem no título para lerem mais textos e poemas de outros autores com tema livre para o DESAFIO SET/2010.


12 comentários:

  1. Quem necessita o êxtase não sabe viver sem amor e poesia ( os de verdade naturalmente, aqueles que sangram mesmo, delatam e dilaceram a própria existência), mas sobretudo, sem os demônios. Esses são absolutamente imprescindíveis. Qualquer que seja ele.
    Amei o texto e principalmente esta parte que fecha tudo com chave de outo.
    Bjos achocolatados

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  2. nossa!! que texto amei! bjs !!

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  3. Nossa, flor...

    Desculpe-me a demora...Em responder tu comentastes no www.lapetitejolie78.blogspot.com., tem um tempão e eu nem vim agradecer...Acredita que hoje que vi teu comentário?
    Obrigada. E agora te sigo.

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  4. querida vc é uma das + que elogio minha poesia, sabe que tenho um carinho por vc e pela sua sensiblidade, desculpa pela ausencia, me perdoe mesmo, sabe que te admiro muito! Muita luz...

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  5. Capaz que não estou te seguindo...só vc mesmo...
    Mande essa carência passear...pois vc é poderosa gatona....
    E vc sabe que eu quando tenho algum problemo converso e resolvo..não fujo...
    Jamais deixaria de te seguir...
    Linda tarde gatona....
    Bjs nesse coração e nada de carências...pense que quem gosta de vc...gosta pela pessoa querida que vc é....
    Bjsssss.....

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  6. Parabéns pelo texto....acho que tem dias que não sabemos ao certo do que precisamos se de anjos ou demônios...mas tenho uma certeza...precisamos é fazer com que o hj seja um dia melhor do que ontemmm...isso é suficiente para termos um lindo objetivo de vida...
    Bjs gatona...

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  7. Como é bom ler você. Entrar em seus ideais definitivamente filosóficos. Logo a Filosofia que é a Mãe de todas as ciências.
    Ah, amor! — Que bom saber que um senhor aos noventa anos ainda sonhava em romper um hímen, que marca o início de uma era de um grande amor.
    Quando você diz:
    “A vida não é eterna, então o poema também não pode ser, pois este nada mais é que a própria vida em versos. Às vezes bons versos; outras nem tanto assim. Aliás, como a própria vida: às vezes, incríveis momentos, às vezes péssimos momentos. E assim como nasce e morre o poema, também nasce e morre o amor. Para daí a pouco nascer novamente um outro poema e um novo amor.”
    Pois bem, a vida não é eterna, mas deixa as marcas de uma vivência que se eterniza através dos DNA´s; mas os versos ficam e marcam um bom momento, lá no passado do poeta. Por isso ainda sonhamos com versos de autores, mesmo além dos túmulos.
    ... E um amor renasce! Um novo verso renasce. Vivemos um grande amor, entretanto deixamos as marcas deste amor num simples verso. É sempre uma lembrança eternizada.
    E para o poeta e também para o filósofo, existem várias vidas, dentro da própria vida. Nascemos e morremos sempre em uma experiência nova.
    — Em suma; vivamos o amor, neste exato momento!

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  8. Parabéns pelo texto, minha poderosa Loba!
    E eu também amo Gabo!

    "Não sei se a vida é sonho, mas sei que faltam alguns ’demônios’ para ela ser completa, plena."

    Amei isso!!!

    Beijos minha escritora querida!

    Adoro-te!

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  9. Loba querida...

    Desculpe-me se pareci "ironica" com o meu comentário. Não era a minha intenção, de forma alguma.

    Expressei com o coração e sentimentos.
    Era o que eu sentia.

    Te admiro muito, adoro ler-te e cada vez que passo aqui aprendo um pouco contigo, com seus escritos.

    Beijos querida.

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  10. Trazendo beijos carinhosos de lindo final de semana pra ti querida.

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  11. O amor é um momento, e que seja pleno em quanto dure.

    bjs
    Insana

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  12. Interessante a tua dissertação sobre o amor. Claro que considero uma garota de 13 anos uma criança que não pode nem deve ser iniciada no sexo assim como penso que o jogo não faz parte do amor mas, esta é a minha opinião que não invalida que não esteja bom o teu post.

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