" (...)
Cantando amor, os poetas na noite
Repensam a tarefa de pensar o mundo.
E podeis crer que há muito mais vigor
No lirismo aparente
No amante Fazedor da palavra

Do que na mão que esmaga."

Hilda Hilst

Se gostou, volte sempre!!!!

sexta-feira, 2 de abril de 2010

TRANSFORMAR UM TRIÂNGULO ISÓSCELES EM EQUILÁTERO COM APENAS DUAS RETAS





O que fazer quando se apaixona por alguém que já vive há quase três anos com outra pessoa e, por todas as evidências, parecem muito apaixonados e em perfeita sincronicidade?

Neste exato segundo,estou bem no centro da mediatriz desse triângulo que, ao que tudo indica, trata-se de um triângulo ISÓSCELES; ou seja, os dois lados principais apresentam a mesma medida. Em outras palavras: Estou sendo inoportuna ao tentar "desestabilizar" a harmonia à prova de qualquer teorema que tente transformar um triângulo ISÓSCELES em EQUILÁTERO (em que os três lados apresentam o mesmo tamanho e importância).

Pena que o desejo não consiga respeitar a ética matemática e nem a ética social dos relacionamentos.

Os dois lados do triângulo em questão, que, na verdade, são duas retas que se tangenciam em infinitos pontos, são duas pessoas encantadoras, fascinantes, maravilhosas, de personalidades fortes, intrigantes, persuasivas, muito inteligentes, sensíveis, almas de artistas, belos... buscam um ideal de vida livre, verdadeiro,em total integração com a Natureza, o respeito às escolhas individuais e por toda forma do VIVER, AMAR e BRINCAR apregoados por Humberto Maturana e Roberto Freire.

Mas o sentimento da PAIXÃO É AVASSALADOR!!!

Muitas vezes, faz-nos cometer desatinos, intromissões, invasões de espaços que não nos pertencem; até usamos palavras eloquentes, quando a sensatez nos sinaliza que a melhor atitude é o SILÊNCIO. Como agora, por exemplo.

A paixão, entretanto, não aceita mordaça e nem segue regras de etiqueta tão bem ensinadas por Glorinha Khalil.

Quando a paixão chega de forma arrebatadora, ela simplesmente pega, mata e come! Um carcará faminto e loquaz! Não adianta nem pensar em querer agir com elegância, ética, delicadeza, respeito... esse louco sentimento não conhece escala de valores infelizmente, e, por isso, coloca-nos em situações de absoluto constrangimento.

Contudo, não posso e nem consigo me calar.

E é bem provável que nem queira me calar.

Racionalmente, é claro, desejaria esquecer tudo, virar a página ou fechar o livro em definitivo, se possível; praticar uma boa ação e doá-lo à biblioteca mais próxima. Mas, só de imaginar não poder mais abrí-lo, sentir a textura de suas folhas, o esplendor de suas palavras, o cheiro das letras, como diz Manoel; o feitiço de sua raridade, do tipo edição de colecionador, machuca lá no íntimo da pele, de onde sai aquele arrepio que nos denuncia de maneira explícita.

Ainda mais eu, que sou uma aficcionada por livros raros, quase únicos. Difícil demais encontrarem-se reproduções de boa qualidade.

Aqueles cabelos emaranhados, desgrenhados, parecendo "ninho de guaximim"; em total contraposição às suas ideias tão lúcidas, firmes, seguras, argumentação lógica e precisa, sem titubear; a resposta sempre em riste, erguida como um escudo. Às vezes, até a veste em forma de armadura.

Rogo, sinceramente, que este texto funcione como uma CATARSE. Depois de terminá-lo, quero obrigar-me a me desfazer desse livro que me alucina e fascina tanto, mas o bom gosto e meu senso estético já me fazem sentir que não dá mais para continuar. Passou do ponto, talhou, encroou, desandou.

Não há mais jeito de tentar consertar nada; mesmo porque não há o que ser feito. Apenas ficar bem quietinha e esperar passar...

Como é difícil se desfazer do que se quer tanto... mas é preciso, "porque ficar ficou feio", não é assim, mestre Thiago de Mello?

De nosso encontro, que não durou mais do que um sussurro, fique apenas esse belo poema da delicada Cora que eu adoraria ter escrito em suas páginas mais indecorosas e pujantes; e a promessa de que não mais irei impor-lhes minha grafia e desejo por elas...


"Este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu...
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu...
E eu,
quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo...
eu te amo, perdoa-me, eu te amo..."


PERDOA-ME! E Até...algum dia ou nunca mais...

Lou Albergaria

Cliquem no link do título para acompanharem o FÁBRICA DE LETRAS que traz vários textos e poemas com o tema PAIXÃO neste mês de maio/2010.

6 comentários:

  1. (OOOH, você sempre comentando no meu blog e eu sempre esquecendo de comentar no blog dos outros... Ai, confesso que fiquei com um pouco de peso na consciência aqui tsctsc.)

    "A paixão, entretanto, não aceita mordaça e nem segue regras de etiqueta tão bem ensinadas por Glorinha Khalil" Adorei esse trecho...
    Mas enfim, realmente, a gente se empolga, se entrega de uma forma que às vezes não dá pra explicar... e no fim vira, o que era pra ser um final feliz, uma bola de neve (não seria esse termo..) que não dá pra desfazer e acabamos de nos arrepender.

    Mas lembrar que paixão é diferente do amor. Paixão é uma coisa repentina, amor não. Mas, claro, uma completa a outra.

    Beijão, Lu!

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  2. Cris, paixão e amor são coisas absolutamente distintas, concordo plenamente; mas não há nenhum arrependimento nessa paixão. Simplesmente quero parar porque "ficar ficou feio", mas não por moralismo ou pudores; apenas o casal não me quer por perto e eu respeito. Só isso. BJS!!!

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  3. Ai ai... mulher, eu assisti um pedacinho desta história, no comentário de um blog que me trouxe até você!
    Você é de uma intensidade embriagadora... esta coisa de escrever nas nas partes indecorosas e punjentes de alguém... fiquei arrepiada...este arrepio que você diz vem de dentro da pele e denuncia a gente..rs
    Paga-se um preço alto por ser quem se é Lou, isso eu aprendi bem cedo, mas mesmo assim ainda tem a capacidade de doer as vezes.
    Mas as biografias mais legais que eu já li são de gente assim, que se joga e se arranha (no mínimo), que não tem medo de demonstrar o que sente, que é mal interpretada por seus amigos, sua família, sua geração... para ser adorada pelas gerações posteriores... Lou Salomé, a mulher que ajudou a conduzir Nietzsche a loucura é um belissimo exemplo disso que falo.Mas acho que estou aqui chovendo no molhado sabe por que? Eu li o seu perfil e vi que ali entre as pessoas que você admira estão figuras assim como a Lou, cuja vida renderia três biografias no mínimo... gente que muitas vezes se foi cedo mas não vieram ao mundo e perderam a viajem...
    E com certeza vc também não... Bjo!

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  4. Quem disse a você, Tulipa, que quero vir ao mundo?!! E quem lhe avalisou e registrou em cartório que "perdi a viagem" (com g, por gentileza)?!!

    A MINHA VIAGEM ESTÁ É NO CAMINHO, TULIPA. NÃO NA CHEGADA OU NO "PÓDIO SEM BEIJO DE NAMORADA", como eternizou Cazuza.

    A VIDA É UMA VIAGEM ENLOUQUECIDA E SÓ ASSIM VERDADEIRAMENTE VALE O SOPRO DE SEU CRIADOR.

    Não creio em senhas de acesso a contas bancárias, nem nas que destravam alarmes de carros japoneses importados, oh bela tulipa, delicada e ingênua; eu sou a terra que se esfarela e o vento sopra, carrega, constrói elevados montes e montanhas ou sou labaredas imensas que me consomem as vísceras... mas SOU, tulipa bela, e isso ninguém pode me roubar... jamais.

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  5. Gostei do título e da forma como à volta dele se escreveu sobre muita coisa... fiquei a pensar em amores e paixões em forma de trapézio.

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  6. Lou adorei sua reflexão, sua escrita, sua veracidade. Senti com você a dor e o extase da paixão.
    Agora vou acompanhá-la um pouquinho mais. Um abraço, Eliete
    terei maior prazer que você conheça meu blog: www.girodeideias.blogspot.com

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