" (...)
Cantando amor, os poetas na noite
Repensam a tarefa de pensar o mundo.
E podeis crer que há muito mais vigor
No lirismo aparente
No amante Fazedor da palavra

Do que na mão que esmaga."

Hilda Hilst

Se gostou, volte sempre!!!!

terça-feira, 30 de março de 2010

"O AMOR É MAIS FRIO QUE A MORTE"


Eu amo FASSBINDER! Um dos cineastas mais incríveis do pós-Guerra. O título do pôste de hoje foi um de seus filmes mais extraordinários em que cada cena parece uma pintura. Não poderia dizer se impressionista, pois não conheço nada sobre estilos de pintura, mas os filmes dele sempre me impressionaram e impressionam até hoje, sempre que resolvo rever algum pela "enésima" vez.

Nasci com uma sina cruel no meu destino - apaixonar-me alucinadamente por quem não quer deixar-se apaixonar por mim-. Não sei direito se é mesmo sina ou se faz parte do meu processo psíquico de leoa no cio, a que adora caçar; jamais ser caçada. Ou, simplesmente, é o gosto por terremotos e tsunamis mesmo. Essa coisa de "lago tranquilo e sereno" definitivamente não está no meu código genético.

Gosto da perturbação, provocação, lances melodramáticos; portas sendo batidas com força, telefones desligados de forma abrupta, emails dilacerantes e tempestuosos, mensagens por celular ou scrap de orkut bastante contundentes, explícitos, delatores da minha loucura e teatrais. Aliás, muito teatrais. Como os filmes de Fassbinder em que até as mãos dos atores, em movimento ou estáticas, eram "milimetricamente calculadas" em busca de uma angulação perfeita e magnífica.

Engraçado isso de querer fazer da própria vida afetiva um livro, uma gravura, um filme, um espetáculo; enfim, uma obra de arte.

Mas quem seriam os espectadores? Creio que só o próprio criador da obra. Em geral, pessoas comuns não apreciam narrativas psicológicas demais; preferem ação, romance, jogos de cena.

Filmes clássicos são para poucos espectadores, plateia muito seleta. Talvez apenas para os cinéfilos "tarja preta" que assistem até a filmes iranianos, quem sabe?

Se minha vida afetiva fosse um filme, sem sombra de dúvidas, seria uma película daquelas bem exageradas e alucinantes de ALMODÓVAR, como VOLVER ou ATA-ME, um dos meus preferidos.

Imaginem raptar a mulher por quem se está perdidamente apaixonado para que ela se apaixone pelo sequestrador, usando para isso todos os argumentos somaterápicos do tesão e da paixão. Deu certo, ao menos, pro Banderas. Mas também o que não daria certo pro Antônio Banderas, aquela delícia de homem?!!!

Fassbinder e Almodóvar são os meus cineastas favoritos justamente por serem dilacerantes, exagerados, passionais, atrevidos, libertários.

Odeio filme que "pula" as cenas de sexo. Como mencionava Roberto Freire, o bigode, filme americano é um porre por causa disso. As cenas de sexo sempre são malogradas. Mostra-se o casalzinho indo para a cama com todo ímpeto e ardor e...um take depois já estão à mesa, tomando o benfazejo café da manhã.

PORRA, QUE FRUSTRAÇÃO!!!

E a cena da cama que faltou?!!! Que sociedade mais reacionária e puritana é a norte-americana! Nossa, chega a dar nojo tanto puritanismo e pudor de mostrar o óbvio; a cena mais antiga que a humanidade pratica há milênios, desde os tempos das cavernas ou de Adão e Eva, como preferirem. Para mim, tanto faz a teoria que explique ou predomine; o que me seduz é o ato. Os corpos se acariciando, trocando calor, fluidos, energia vital, sensações de bem-estar...corpos em absoluta sincronicidade. OU NÃO.

Esse OU NÃO é que ferra tudo!Transforma todo o tesão em pedra de gelo que , ainda por cima, não derrete. Ao contrário, vai é tomando conta de todo o corpo da pessoa, até chegar ao coração, pélvis e, afinal, alcançar a parte mais sensível do nosso corpo: a alma.

Como é difícil encontrar essa sincronicidade absoluta e perfeita com outro ser!

Talvez, por isso, as sex shops se alastraram por aí. As vendas de bonecas infláveis e vibradores continuam em alta.

Compartilhar o próprio corpo com alguém e ao mesmo tempo receber o corpo do outro para ser compartilhado é uma tarefa que enseja muita entrega, doação, generosidade, paciência, sem falar no principal que é a sensibilidade de conseguir captar o que o outro gosta e do que verdadeiramente necessita (precisa), e o mais difícil, como proporcionar-lhe isso?

Tô quase concordando com os americanos, vamos pular logo pro café da manhã que é mais fácil mesmo...

Mas, apesar de toda dificuldade,ainda prefiro Fassbinder e Almodóvar. Acho que sinto atração fatal pela Verdade; não conseguiria lidar com todo aquele pragmatismo norte-americano.

Sexo, para mim, acima de qualquer excitação neuro-hormonal, implica doação. E doação mútua. E isso, sim, apresenta grandes chances de levar à sincronicidade absoluta e deliciosa entre dois corpos, duas almas, naquele exato momento, que se tornam apenas UM.

Pode parecer caretice da minha parte, mas pelas minhas "pesquisas e experiências subjetivas" nessa área, o sentimento é um amálgama dos mais eficientes nesse processo todo de unicidade pelo sexo.

Não estou falando de forma alguma que sexo sem sentimento não seja bom. Às vezes, para o corpo, a resposta é até mais imediata e perturbadora; entretanto, a alma fica com aquela sensação incômoda de incompletude, de que a fome ainda persiste.

Por tudo isso, imagino eu, que apenas satisfazer as necessidades do corpo não é o suficiente.

Sente-se algo estranho, como se estivesse faltado a melhor parte; talvez a sobremesa...e com bastante calda de chocolate, é claro.

Há exceções, naturalmente, e até sinto uma pontada de inveja dessas mulheres que vivenciam a sexualidade de uma forma tão livre e solta, sem se deixarem aprisionar por estigmas culturais de moral e romantismo. Mas, devo confessar que ainda estou muito longe desse "nirvana do desejo livre e desenfreado" em que a mulher se permite o prazer pelo prazer, sem culpa, moralismos torpes ou necessidade de romance.

"Ai de mim, que sou romântica...", como canta tão lindamente Rita Lee.

E até Fassbinder, certa vez, em uma entrevista, quando foi desafiado a se auto-definir em uma única frase, respondeu simples e ternamente:

"Sou apenas um anarquista romântico." Eu também, mestre.


Lou

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