" (...)
Cantando amor, os poetas na noite
Repensam a tarefa de pensar o mundo.
E podeis crer que há muito mais vigor
No lirismo aparente
No amante Fazedor da palavra

Do que na mão que esmaga."

Hilda Hilst

Se gostou, volte sempre!!!!

sexta-feira, 26 de março de 2010

UM POEMA PARA COMEMORAR QUASE UMA DÉCADA DE SÉC. XXI


Este é um dos poemas que compôem o livro PESSOAS E ESQUINAS


Não consigo adivinhar o canto dos pássaros.

Só escuto buzinas, motor de carro
Moto, ônibus...
Fumaça na cara.

O “caixa rápido” do Banco emperrado
Sendo socado pelo correntista puto.

O camelô da esquina
Oferecendo no grito seus “piratas”

O picadeiro da loucura!

Hoje,
Tudo pode ser pirateado
Até as pessoas
E sobretudo.

As pessoas sempre se escondendo
Debaixo de um longo e felpudo capote
Em suas múltiplas camadas de peles
Para se protegerem do lúgubre inverno
de uma Viena eterna
em seus séculos de luzes e de trevas.

A Urbanidade corrompe os sentidos.

Almas sendo ofertadas
Leiloadas, rifadas,
Malogradas.

Ficaram cegas, surdas e mudas.

“Closed Caption” para os sentimentos
É urgente, é necessário
Um alerta de sobrevivência
Um alarme difuso.

A cidade e seus símbolos
Os humanos e seus estigmas
A Sociedade embaraçada
Valores embaralhados
Seus pedaços arrancados...

Pessoas em seus hiatos e lacunas
Iates e dunas...

Como preencher ruas e praças
Se as pessoas estão vazias
Abduzidas por griffes, ouro, prata
Gravatas e echarpes
Titânio, cádmio, tungstênio
Tecnologias sem censura
te conectando com o Mundo.

Ser humano torna-se vira-lata
Mais frágil que uma casca de ovo
Uma bala na agulha.
Ama o cachorro mais do que a um filho
O membro mais nobre da casa
Ocupa o lugar de honra à mesa da família.

Neste momento,
está cada um em seu quarto
Seu computador
Sua TV de plasma
Seu extrato bancário.
Porta trancada:
Não incomode o tilintar do teclado.

Apenas três letras sintetizam a humanidade óbvia
De Nova York a Bangladesh
De Tokyo a Moçambique:

BMW

Apenas isso.

Não importa o estilo, a cor, o modelo
O pó que se vai cheirar lá dentro
é só um detalhe.

Apenas uma ínfima verruga na ponta do nariz.

A gente se acostuma...


Lou

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