" (...)
Cantando amor, os poetas na noite
Repensam a tarefa de pensar o mundo.
E podeis crer que há muito mais vigor
No lirismo aparente
No amante Fazedor da palavra

Do que na mão que esmaga."

Hilda Hilst

Se gostou, volte sempre!!!!

segunda-feira, 8 de março de 2010

QUEM TEM MEDO DE SER LEILA DINIZ?









A Rita escreveu certa vez: “toda mulher é meio Leila Diniz”. Infelizmente, não posso concordar com ela, cantora e compositora extraordinária que admiro muito por sua integridade artística e personalidade forte.

A palavra toda esconde muitas armadilhas e é bastante traiçoeira. Se, pelo menos tivesse escrito: “toda mulher gostaria de ser Leila Diniz, mas somente as mais audaciosas assumem isso publicamente ”, então, sim, seria mais coerente com nosso cotidiano.

Entretanto, o que vejo ao meu redor, e nem preciso espichar muito o olhar, são mulheres e homens repudiando o comportamento sexual livre e libertário de algumas “Leilas Diniz” que estão aí na resistência, exigindo seu orgasmo sem medo ou pudor. Mas são poucas. Infelizmente, pouquíssimas, devo acrescentar.

São raras as mulheres que conseguem verbalizar para o parceiro, sobretudo, se for o marido, que ele não consegue satisfazê-la sexualmente e nem ouso usar a expressão ”em plenitude”, pois satisfazendo o minimamente possível já estaria de bom tamanho, pelo menos para a imensa maioria delas, que, aliás, não são Leila Diniz e nem poderiam ser. Pois, Leila, a original, jamais se sentiria satisfeita com o minimamente possível.

E, ainda prá satirizar um pouco mais a “epopeia”, criam O Dia Internacional da Mulher, “como forma de mostrar à sociedade que nós, mulheres, estamos indignadas pela forma discriminatória como sempre fomos tratadas desde os primórdios da humanidade”, ou desde que o Mundo é Mundo, como diria minha avó.

Na verdade, o que sinto e percebo é que, em muitas das vezes, a própria mulher é que se coloca em um plano de submissão em relação aos homens e até socialmente. Parece que arraigou em suas vísceras esse puritanismo moralista e exacerbado que de tanto passar de geração em geração, acabou tornando-se um valor cultural.

Em outras palavras: as mulheres ficaram receosas em assumirem o seu desejo e até mesmo a sua necessidade fisiológica de praticarem e obterem um sexo de qualidade. Ou seja, na hora do “pega prá capar”, contentam-se com pouco , muito pouco ou quase nada; e muitas centenas delas com nada mesmo, literalmente. Mulheres que já completaram bodas de prata e estão às vésperas das bodas de ouro e ainda não sabem, não experimentaram e nem sequer imaginam o que seja um orgasmo pleno, intenso, enlouquecido, daquele que transfigura rosto e alma.

Que esposa que, ao não sentir prazer na relação com o marido, lhe diria na bucha: “eu não gozei! E, aí, o que você vai fazer quanto a isso?”, começando ali mesmo, naquele exato momento, a “terapia de casal”? Creio que a imensa maioria delas, simplesmente, se enxuga, toma um lexotan, ou qualquer outro que o valha, vira para o canto e dorme.

E, na manhã seguinte, levantam-se antes do maridão para que ele encontre a mesa do café já posta, antes de sair para o trabalho, e garantir a prestação da casa própria, do carro, a escola das crianças, as saidinhas de algum final de semana... etc e tal.

Talvez, por conta dessa hipocrisia, tantos homens muito bem casados, respeitáveis pais de família, estejam tanto à cata de um belo travesti na virada da esquina; na penumbra do moralismo. Ou mesmo dando suas escapadelas com outras mulheres e algumas esposas, as mais espertas ao meu ver, também tentam se arranjar por fora do matrimônio, mas a instituição preservada, acima de tudo.

Pois, o patrimônio construído pela família está acima dos desejos, anseios, insatisfações; afinal de contas, “todo casal tem seus problemas mesmo... é normal... casamento é assim desse jeito... são altos e baixos... ruim com ele, pior sem ele...” e assim prosseguem-se as ladainhas de pais para filhos, cristalizando uma “verdade” irrepreensível, defendida por quase toda a sociedade; em especial igrejas, governos e cartórios de registro civil, claro, uma vez que ganham uma exorbitância monetária por conta da burocracia institucionalizada, inclusive o casamento, que é um contrato para garantir direitos patrimoniais, como qualquer outro e, por isso, necessita de registro público para sua validação.

A Matrix. A consolidação absoluta da matrix. Coitado de quem ousar não se enquadrar a ela feito um “tijolinho na parede”. Ainda mais se for uma mulher; ainda mais ainda se for uma mulher que exige o seu orgasmo, como um cachorro faminto exige o seu osso... ainda mais se for uma Leila Diniz que assume publicamente: ”dou sim, mas só prá quem eu quero.”

É... sei não, Ritinha; mas nem toda mulher é meio Leila Diniz para minha incomensurável tristeza e pesar, esteja certa.

Ser Leila Diniz exige demais de nós. Imagine ser uma mulher que se desprende dos paradigmas sociais e culturais de toda uma época e os afronta de barriga grávida em punho em um momento da história em que a imensa maioria das mulheres escondiam até os pés; assume sua sexualidade deliciosamente ativa e ideias libertárias no auge de uma ditadura militar!

Há uma antiga frase de Simone de Beauvoir que de tão repetida já se tornou até um clichê: "não se nasce mulher;torna-se". Então, como boa aprendiz que sou,resolvi dar um toque de contemporaneidade a essa frase,parafraseando a magnífica Simone:

NÃO SE TORNA LEILA DINIZ; SE NASCE!!!

Não estou de forma alguma fazendo apologia do feminismo; não levanto bandeiras. Muito pelo contrário, sou absolutamente defensora das liberdades individuais e livre-arbítrio. Cada um que encontre o seu eixo de equilíbrio dinâmico ou estático dentro do sistema ao qual estamos todos inseridos.

Simplesmente, sou como o mestre DRUMMOND, quando se aventurou pelo universo da prosa em seu excelente Contos de Aprendiz : “ouço uma história aqui, outra ali e vou passando...” Só isso!


Ah, e para todos que desejaram “Feliz dia da Mulher”, só tenho algo a declarar: deixem-me trabalhar e continuar evoluindo no meu caminho...


Lou

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